O ano era 2006. Começo do ano. Aproveitando as férias, eu podia ficar acordado até mais tarde, coisa que adorava, mas pouco aproveitava naquele período, afinal, trabalhador comum que levantava muito cedo não podia se dar ao luxo de ficar acordado durante a madrugada. Ainda não tinha TV a Cabo, na verdade, mal tinha internet, em casa ainda era discada, banda larga mesmo somente no escritório da família.
Foi neste período que nasceu uma paixão. Uma paixão forte, descontrolada e quase desumana. Assistindo TV num dia comum, vi um anúncio inusitado e que me chamou bastante a atenção. A noite, na internet, perguntei a um amigo se ele sabia do que se tratava, a resposta foi um sonoro não. Pesquisei e gostei do que vi. Novamente falei com o amigo e decidimos que assistiríamos ao programa. Como ele dormia cedo, cabia a mim enviar SMS para acordá-lo, já que o horário de uma da manhã não ajudava muito.
Ao assistir pela primeira vez a história inusitada de um vôo que saía da Austrália rumo a Los Angeles, nunca imaginei que teria uma paixão tão avassaladora e tão impressionante. Mas foi amor a primeira vista. Na época, eu já era fã de teledramaturgia, mas produtos internacionais eu dependia exclusivamente da TV aberta brasileira, pois como disse, não tinha TV aberta e a onda dos downloads ainda não havia explodido por aqui.
A primeira vez que vi o gancho inicial para subir os créditos e aquela música de suspense que deixa o coração acelerado, pensei: "Taí, uma boa série". Bobagem, mais do que boa. Eu estava presenciando uma série histórica. Lost. Do melhor primeiro episódio entre todas as séries que eu havia visto até então e que eu veria por muito tempo, a uma primeira temporada eletrizante, cheia de inovações televisivas, enredo de mistério e diálogos deliciosos, a série tornou-se meu grande assunto naquele período.
Mal sabia eu que ela era assunto em todo o mundo. Vi a primeira temporada toda dublada, confesso (depois revi legendada, óbvio). E, então, corri para a internet. No escritório da família, atrapalhando todo o andamento do serviço. Lá eu descobri que já haviam 10 episódios da série já exibidos nos EUA. E então, eu conheci o Torrent. Baixei os 10 episódios duma só vez (nem me lembro como chama esse processo em torrent) e, quase 22 horas depois, assisti aos 10 episódios de uma só vez. Ali já estava fascinado, apaixonado, envolvido e não tinha mais volta.
Hoje, 04 anos depois e 06 temporadas depois, é o grande dia. O dia do Fim. Foram mais de 120 episódios. Certamente mais de 10 mil diferentes diálogos com centenas de pessoas diferentes. Foram milhares de surpresas e olhos esbugalhados diante da tela do computador pasmo com o que a história revelava. Algumas dezenas de críticas a alguns episódios que pareciam sem nexo. Discussões acaloradas e defesas de todo tipo de tese sobre os mistérios da Ilha. Duas paixões quase carnais (Kate e Juliet). Muitas lágrimas, afinal, Lost mostrou como poucas séries emocionar seu público. Inúmeras gargalhadas, principalmente com Ben, Sawyer e Hurley. Hoje é o grande dia.
Não há um sentimento de morte anunciada. Não estou num hospital, na sala de espera da UTI aguardando o anúncio da morte de um ente querido. Não é uma morte prematura, é apenas o fim de um ciclo. Independente de alguns dos milhões e milhões de fãs da série no mundo inteiro estarem queixosos ou felizes com o desenrolar da trama. Independente das discussões acerca dos episódios (guardo isto para blogs especializados). Estamos vivendo um momento histórico.
Eu poderei dizer daqui muitos anos que fiz parte da geração que acompanhou ali, ao vivo (ou algumas horas depois via download) toda a exibição da série que revolucionou o mundo da televisão. Assim como Cristo revolucionou o Planeta, podemos dizer, sem medo, que o mundo das séries é dividido entre antes e depois de Lost. Sou privilegiado por isso e um apaixonado inveterado desse produto rico, completo e que dá uma aula de dramaturgia.
Hoje vai ao ar nos EUA e algumas horas depois em nosso computador (e aos que tiverem paciência, na terça-feira pela AXN no Brasil) o episódio de duas horas e meia The End marcando o desfecho da história genial criada por JJ Abrams. Parafraseando Getúlio Vargas, Lost deixa a vida para entrar para a história.
3 Quebraram tudo:
Apesar de fã de Lost, não tenho esta paixão toda que foi declarada por ti... rs!... A série é um fenômeno e como todo fenômeno, também teve seus momentos podres. E não foram poucos. É lógico que o sucesso era previsto pois até os executivos da ABC bem sabem o quanto os americanos adoram uma 'enrolação'. E sabem o quanto este horário (21 hs) já é famoso por roteiros enigmáticos não só na TV norte-americana, como em todo o mundo.
Lost também foi uma verdadeira praga para a TV Americana. Afinal, serviu de influência para várias outras séries como Heroes e Desperate Housewives. Um exemplo pode ser visto a partir do final da terceira temporada, quando um termo vagabundo e filho da p***.: 'flahsforward' :. chegou ao auge da fama. Lost abusou da ideia e logo, outras séries também... o que ocasionou na grande perda de audiência: não de Lost e sim das outras séries que resolveram seguir a "grande ideia". Ainda bem que os telespectadores buscaram também a justiça... pois a perda crescente de audiência desde a quarta temporada "lostiana" é notável... foram pouco mais de seis milhões de telespectadores em média que abandonaram a série, desde o começo até hoje, no seu fim.
Enfim, a sorte de todos é que a série acabou no tempo certo, sem cortes ou "esticamentos" e agora, todos podem respirar, sair de suas casas, sorrir, sem pensar em uma tal de fumaça preta - como bem diz Dani calabresa em suas insistentes críticas a série no 'Furo MTV'. :)
pra mim Lost é o que O Senhor dos Aneis foi pro cinema: um divisor. Antes eu sequer acompanhava algum seriado direito - talvez smallville pelo SBT. a serie so fez minha paixao por TV aumentar ainda mais - chegando ao cumulo de hoje estar acomapnhando 10 seriados diferentes e ao mesmo tempo, fora aqueles que 'estão na lista'. Lost deixará saudades.
Lost não foi tudo isso.
http://blogpanoramatv.blogspot.com
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