sábado, 21 de julho de 2012

Avenida Brasil aponta um perigo: O jornalismo de troca de favores

Avenida Brasil é, indiscutivelmente, a novela de maior repercussão no Brasil nos últimos 10 anos - provavelmente é muito mais do que isso, mas essa é uma medição muito subjetiva, portanto, esse período é um número aproxima. Com o sucesso absoluto da história criada por João Emanuel Carneiro diversos pontos surgem para serem analisados e, alguns deles, fora do ambiente da própria dramaturgia, uma vez que ela passa a ganhar vida fora da TV.

Um dos pontos que vem chamando a atenção nas últimas semanas é o jornalismo de troca de favores. De fato, não há nenhum jornalista na trama e este assunto não é abordado sequer de forma indireta ao longo dos capítulos. Mas uma situação curiosa vem ocorrendo entre os conhecidos críticos de televisão e que, com o advento da internet, ganharam voz ainda mais ativa na manifestação do que eles chamam de análise aprofundada.

Avenida Brasil ainda é, de longe, o folhetim de maior aceitação da crítica nos últimos anos, porém, um pequeno grupo mostra que profissionalismo na crítica de TV vai apenas até a página 02. Este seleto grupo que sempre elogiou a história desde o primeiro capítulo e não se cansava de apontar qualidades no roteiro, de repente, iniciou uma campanha com críticas diárias e infundadas.

Algumas vezes são notas pequenas, lembrando que a roupa de determinado personagem estava amassada e isso é inaceitável. Ou talvez os números de audiência que estão abaixo de Fina Estampa - apenas em São Paulo, em todas as outras regiões e no PNT já ultrapassou e isso estes jornalistas não falam. Mas também há críticas longas, textos bem escritos e com rebuscamento falando sobre assuntos absolutamente irrelevantes, como o crescimento da Classe C - como se a novela em algum momento tivesse apresentado esta proposta.

Esses críticos que sustentam suas famílias com este trabalho tentam mostrar que estão apenas trabalhando e realizando análise imparcial. Mentira. Uma pequisa superficial notaria que, até cerca de um mês atrás, todos eles se derretiam de elogios ao folhetim. Tudo mudou após a polêmica entrevista de João Emanuel Carneiro à revista Veja em que o autor faz críticas ao formato das novelas, ao uso de atores e atrizes mais velhos como protagonistas, às chamadas panelinhas e chama outros autores ironicamente de "coleguinhas".

A partir deste momento apareceu o jornalismo de troca de favores. Estes críticos que sobrevivem de notinhas exclusivas sobre as telenovelas voltaram-se contra o autor em defesa a outros autores e, ao invés de debater a forma como JEC respondeu às perguntas, miraram contra sua história que, até então, era irretocável. A ideia central é simples: para manter suas colunas eles precisam se relacionar bem com os autores e, por isso, se voltam quem os critica criando factóides para convencer o telespectador que há problemas na história.

Avenida Brasil se elevou e tornou-se maior que o próprio João Emanuel Carneiro. Assim como infinitamente maior que críticos desavisado que acreditam enganar seus leitores. Está óbvio o jornalismo de troca de favores e essas críticas infundadas ultrapassaram o limite da vergonha alheia. É evidente que ninguém é obrigado a gostar da novela, é evidente que um crítico experiente pode encontrar problemas no desenvolvimento da história, na capacidade de interpretação do elenco, na direção, ou seja, análise técnica, mas birra contra o autor é coisa de gente pequena. Muito pequena.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A construção narrativa na virada de Avenida Brasil

Uma novela é uma obra de ficção. Independente de haver nela seu universo e sua própria mitologia, é preciso que a produção, dentro de sua proposta, transmita verossimilhança. Isso é diferente de transmitir realidade. O que uma obra televisiva necessita é que, mesmo dentro de seu próprio universo, o telespectador compre a ideia de que o que está assistindo faz sentido no contexto dessa história. Sem isso, é impossível o envolvimento do público.

Em Avenida Brasil, novela das 21 Horas da Rede Globo, o autor João Emanuel Carneiro mostrou-se mestre também no domínio deste contexto. No capítulo desta quinta-feira deu início a grande virada da trama em que Carminha (Adriana Esteves) finalmente descobre que Nina e Rita (Débora Falabella) são, na verdade, a mesma pessoa.

Este era o momento mais aguardado da TV brasileira em muito tempo e, como tudo que provoca grande ansiedade, também provocou frustração em alguns. Apenas naqueles telespectadores mais desatentos e que não se deixam envolver e refletir no que estão assistindo. João Emanuel Carneiro apresentou um centésimo capítulo sólido e, principalmente, muito bem construído e contextualizado em sua proposta inicial. Quem vê a novela desde o início percebeu o cuidado do capítulo.

É bem verdade que, enquanto telespectador, nosso desejo era de que a grande virada fosse com cenas exclusivas sobre Nina e Carminha, com o embate de ambas e com o desfecho da situação mais rápido. Mas a linha de Avenida Brasil é outra, o seu conceito é diferente. Ao contrário de A Favorita, outra trama do autor, a novela atual é muito mais sólida enquanto novela e apresenta núcleos muito melhores distribuídos e com maior participação.

Ao não abandonar os núcleos, mostrando que eles são sim importante para o folhetim, o autor mostrou-se respeitoso para com as personagens que ele próprio criou e cultivou ao longo destes 100 capítulos e também para com seu público fiel que aprecia cada uma das figuras criadas. Não houve um capítulo-barriga, houve um capítulo bem construído e divinamente bem amarrado.

Deixar para o final do capítulo a sequência em que Carminha descobre a verdade é lugar-comum entre os autores. Ao mudar esta estratégia em A Favorita, quando a revelação de que Flora (Patrícia Pilar) era a assassina de Marcelo ocorreu no primeiro bloco, João Emanuel Carneiro não criou uma nova regra folhetinesca. O gancho de fim da capítulo continua sendo o grande chamariz para o próximo capítulo.

Coerência. Esta foi a palavra de ordem para o capítulo centésimo e para a virada. Quem soube compreender o contexto da história saboreou cenas excelentes protagonizadas por todo o elenco e percebeu que o clima de virada não ocorreu apenas no núcleo central, mas houve mudanças significativas em praticamente todos os núcleos. E, o fato de não ter acontecido tudo de uma vez, deixa um gostinho de quero mais para o grande embate das protagonistas. É esperar para ver.

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