sábado, 21 de janeiro de 2012

A faca de dois gumes de uma direção

Difícil imaginar quem tem papel mais importante em uma obra de dramaturgia. No cinema, é provável que a figura do diretor seja fundamental na composição estilística da obra. Nas séries americanas não há dúvida que este papel cabe exclusivamente ao produtor-executivo que acumula diversas funções. Mas e nas novelas? Como medir a importância e o grau de influência do diretor?

Quem senta diante da TV para assistir uma telenovela não tem a menor ideia das dificuldades encontradas pela equipe até levar o produto finalizado ao ar. Entre a primeira escaleta do capítulo até o fim da edição são diversas etapas e, a figura do diretor é fundamental, pois é dele a voz do autor na composição do trabalho. Entre quem escreve e quem interpreta o texto existe um abismo chamado conhecimento de mundo e é o diretor o responsável por encontrar a ponte que liga os dois extremos.

Isso não é, nem de longe, uma tarefa simples. Não são poucos os casos de diretores que, ao não compreender o estilo do texto acabaram por atrapalhar a densidade da história. A novela América, de Glória Perez, foi apenas um exemplo de complicações entre direção e autor - e este chegou ao extremo de se precisar mudar o comando da direção. Porém, mesmo em casos menos óbvios, há interferência clara que pode ser para o bem ou para o mal.

Veja o caso de Fina Estampa. O texto debochado e popular de Aguinaldo Silva que lança mão de todos os clichês e caricaturas possíveis - e se diverte com isso - na composição de situações que fazem a história caminhar seria muito mais verossímil se houvesse uma direção menos brega. Um diretor mais sóbrio conseguiria encontrar o contraponto do texto e sublinhar os momentos importantes junto ao elenco. 

Um claro exemplo disso aconteceu na cena em que Pereirinha (José Mayer) apareceu na trama pela primeira vez. O texto forte e exagerado escrito pelo autor para a protagonista Griselda (Lília Cabral) deveria ser o destaque e, para tal, seria necessária uma interpretação minimalista, mas o diretor Wolf Maya optou por fazer tudo em forma de barraco e, o que chamou a atenção, foram os gritos e reações de Griselda, deixando o texto de lado. Exatamente o que aconteceu durante a primeira fase da novela com a vilã da história e mudou. Teresa Cristina (Cristiane Torloni) se destacava mais por seus trejeitos e exageros do que por seu texto, quando a atriz mudou o tom, a personagem melhorou. Isso é a mão do diretor influenciando para o bem.

Em A Vida da Gente percebe-se um exemplo um pouco mais claro das boas influências de um diretor. Um texto carregado de drama, situações cheias de infelicidades e desespero criadas pela autora Lícia Manzo funcionam bem no contraponto do diretor Jayme Monjardim que criou fotografia, cenário, figurino claros, limpos, alegres. Esse contraponto ajuda na composição das cenas e, com isso, o diretor consegue deixar o elenco mais a vontade.

Jayme, aliás, sabe como ajudar um ator a encontrar o tom do personagem. Tanto que é impossível encontrar apenas um destaque positivo nas atuações deste folhetim. Situações de extrema tristeza que são interpretadas sempre de forma sóbria e minimalista. O diretor prefere destacar o texto do que a expressão corporal das personagens e isso torna a trama muito mais profunda.

É certamente difícil encontrar o ponto correto da direção, mas este trabalho é sem dúvida fundamental para que o telespectador consiga experimentar todas as sensações que uma obra como a telenovela pode proporcionar, por isso é preciso cuidado e delicadeza na hora de se dirigir. O público certamente agradecerá.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

A Vida da Gente: uma crônica macabra

Há uma máxima em alguns canais da psicologia que trata do tema da felicidade. "Ninguém é absolutamente feliz ou triste". Esta frase, numa análise mais aprofundada não se adequa a realidade descrita pela novela das 18 horas da Rede Globo. Em A Vida da Gente a máxima pregada é exatamente o oposto, quase um caso de maniqueísmo em que não há felicidade, em que a alegria é um sonho cada vez mais remoto e distante.

Lícia Manzo, autora responsável pelo texto do folhetim, é conhecidamente uma atenta pesquisadora e trabalha com maior densidade em seu discurso, apoiando-se em diversos pontos da psicologia. Esta é a marca da novelista que apresentou o mesmo sinal em seu primeiro trabalho na TV, a série Tudo Novo de Novo. Porém, na novela das 6 o elemento tristeza e angústia tornou-se praticamente marca registrada, a falta de felicidade é o selo da trama.

Todos estão acostumados a assistir numa novela os mais diversos conflitos internos apresentados nos núcleos durante toda a produção. Mas é ponto pacífico entre os trabalhos de que nunca todos os núcleos sofrem conflitos ao mesmo tempo, é como se um grupo de personagem ficasse feliz como contraponto ao outro grupo que está triste por enfrentar dificuldades.

No momento atual de A Vida da Gente, o telespectador está estarrecido com a quantidade de cenas angustiantes e que levam praticamente 100% das personagens a uma situação de mais completa tristeza. O que chama a atenção da audiência para este momento da novela é que não há luz no fim do túnel, ninguém enxerga qualquer perspectiva de que as personagens encontrem o caminho da felicidade.

Não há desafogo para o telespectador. Quem se dispõe a assistir diariamente ao folhetim, acostumou-se a ter forte carga emocional por praticamente 60 minutos. São cenas e mais cenas com situações e textos tão pesados e sombrios que é impossível ficar isento e ter um olhar distante de tudo que acontece. O público sofre com as personagens e, como todos sofrem o tempo todo, a impressão que se tem ao término de cada capítulo é o de estar saindo de um velório.

A excelente direção, aliada ao ótimo texto e a um elenco que soube compreender a profundidade desta história tornou A Vida da Gente uma excelente pedida para os fãs de telenovelas, mas muito mais do que isso, a novela é uma espécie de crônica macabra sobre a impossibilidade do ser humano de encontrar a felicidade. Um verdadeiro Conto de Fadas invertido.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Comparativo de Audiência - 19 Horas - média parcial

Média-parcial diária de novelas das 19 Horas até o capítulo 80


Aquele Beijo: 25,65
Morde e Assopra: 27,49
Tititi: 28,89
Tempos Modernos: 22,74
Caras e Bocas: 28,59
Três Irmãs: 25,99
Beleza Pura: 27,88
Sete Pecados: 30,39
Pé na Jaca: 29,99
Cobras e Lagartos: 34,36
Bang Bang: 27,90
A Lua me Disse: 31,60
Começar de Novo: 33,94
Da Cor do Pecado: 40,61
Kubanakan: 36,95
O Beijo do Vampiro: 28,86
Desejos de Mulher: 30,14

O Brado Retumbante é uma superprodução acertada

Estreou na noite da última terça-feira, 17, na Rede Globo mais uma minissérie. Substituindo a excelente Dercy de Verdade e mantendo a grade de Janeiro da emissora, O Brado Retumbante entrou em cena com texto de Euclydes Marinho e núcleo de Ricardo Waddington, a produção chamou a atenção já nas chamadas pela coragem de tratar de um assunto recorrente, mas delicado, a corrupção do sistema político nacional.

A premissa já é suficientemente boa para chamar a atenção do telespectador, mas o primeiro episódio costurou tão bem toda a situação para dar o pontapé à história que, quem assistiu não conseguiu mais abandonar a TV por um minuto sequer. A podridão do sistema político que, tentando se safar, levou Paulo Ventura (Domingos Montagner) à presidência da Câmara foi o início de tudo e, um simples acidente com o presidente e o vice levou um dos poucos políticos da história a se tornar presidente da República.

Um dos pontos altos da série nesta estreia foi o texto Euclydes não quis produzir uma novela curta, ao contrário, respeitando cada formato, o autor se esvaziou da linguagem dos folhetins e soube construir situações e diálogos muitos mais densos e menos maniqueístas, exatamente como uma produção assim pede. Ao criar um político incorruptível, o autor correu o risco de criar um herói nacional no pior sentido da palavra, mas ele soube dar características humanas a Paulo Ventura, o que foi, talvez, o maior acerto da produção até o momento. Além disso, o texto da minissérie mostrou estar afiado e os diálogos não vieram cheios de frases prontas que todo brasileiro é louco para ouvir, ao contrário, as discussões sobre política e corrupção atingiram um patamar inesperado e muito mais aprofundado.

Outro ponto alto foi a direção. A sobriedade de Ricardo Waddington esteve o tempo todo presente nas decisões de direção e isso ficou claro no vídeo. A opção pela imagem amarela foi polêmica e arriscada, mas diante da sutileza do texto e do perfil do telespectador brasileiro, foi como uma espécie de mensagem um pouco mais óbvia sobre o tema, ou seja, um acerto. Os takes e os cenários mostraram que a direção se preocupou em cada detalhe para dar um resultado positivo e bem costurado a fim de que nada soasse falso no vídeo e conseguiu.

Se fosse possível nomear um problema para esta estreia seria o elenco. Longe de estar ruim, boa parte do casting pareceu insegura e ainda imatura neste primeiro episódio. Sem conseguir defender personagens mais profundos, algumas falas pareciam realmente interpretadas e, para uma produção assim, isso é um problema. Domingos Montagner começou um tanto quanto perdido, suas primeiras cenas foram bem abaixo do que vimos o ator fazer em outras produções, mas nas cenas mais fortes ele segurou bem o papel e deve melhorar nos próximos episódios. Com um José Wilker debochado e prometendo novo show, o grande destaque da noite, contudo, foi Maria Fernanda Cândido. Mesmo longe da TV, a atriz demonstrou uma maturidade impressionante e construiu uma personagem que tinha tudo para ser a mais apagada da trama e tornou-se, de longe, a mais carismática.

O Brado Retumbante mostrou-se uma produção extremamente promissora nesta estreia e tem uma excelente premissa em mãos. A possibilidade de conseguir transformar todos os elementos em uma grande minissérie é grande e, a tirar pela estreia, estaremos bem servidos nas próximas duas semanas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Corações Feridos peca pela ingenuidade

Estrou na última segunda-feira, 16, a nova produção de teledramaturgia do SBT. Nova entre aspas, afinal, Corações Feridos já está totalmente gravada há mais de um ano. Com a assinatura de Íris Abravanel, a adaptação de uma trama mexicana reinaugura a faixa das 20h30 para as telenovelas da Casa nesta nova grade que se iniciou na segunda-feira.

O que se viu no primeiro capítulo não foi nada promissor. Se fosse necessário definir esta estreia em uma única palavra, a ideal é ingenuidade. E aqui não há referências ao sentido mais puro e inocente da palavra, mas sim, a falta de maturidade para se conduzir uma produção deste porte numa das maiores emissoras do país. Ao terminar o primeiro capítulo de Corações Feridos, a impressão a que se teve é que faltou a seus produtores coragem para mergulhar de cabeça no projeto.

Íris Abravanel avançou muito como novelista desde seu primeiro trabalho até agora. Ainda assim falta um longo e árduo caminho se ela quiser ser respeitada no país por esta profissão. Logo nas primeiras cenas do folhetim ficou clara a falta de traquejo da autora. Se ela melhorou muito ao criar diálogos um tanto quanto mais reais para seus personagens, as situações apresentadas continuam muito abaixo do aceitável para ir ao ar numa novela. E ainda houve alguns pequenos deslizes na qualidade dos diálogos, mas nada que chegou a incomodar. Sobre as situações, o claro exemplo de falta de prática se deu na cena trágica com a personagem do Paulo Zulo. Toda a situação foi mal construída e os diálogos abaixo da crítica.

O ponto de regularidade da trama, por mais surpreendente que possa parecer, foi o elenco. Grande parte conseguiu passar de forma discreta, sem se destacar negativamente e isso já um avanço para o SBT. Destaque positivo mesmo, apenas 03, Antônio Abujamra que, como sempre, sabe compôr um personagem mesmo diante de um texto sofrível, Lívia Andrade surpreendentemente bem neste primeiro capítulo ao defender sua personagem caipira e Jacqueline Dalabona que mostrou-se segura num papel que caminha entre o drama e a comédia. Em contra-partida, Paulo Zulu e Flávio e Tolezani deram uma aula de como não se interpreta uma personagem. A vilã de Cynthia Fallabella ainda não teve muito destaque, mas nas cenas em que apareceu, demonstrou estar bastante engessada e mexicanizada.

Porém, entre todos os destaques, é preciso lembrar da direção. Bem abaixo da trama anterior - Amor e Revolução - a direção pecou em todas as escolhas neste primeiro. Da trilha sonora ao posicionamento das câmeras passando pela marcação de local, nada funcionou para os diretores. Em muitas cenas ficou clara a falta de preparo dos diretores que acabou atrapalhando ainda mais esta estreia, pois nem conseguiu o melhor posicionamento das câmeras, nem conseguiu extrair o máximo de potencial do elenco. Pior que tudo isso foi a edição, completamente errônea, cheia de cortes secos, exagerados e sem necessidade.

A bem da verdade é que, pelo texto e pelo elenco, há potencial de melhora para Corações Feridos. Porém, é improvável que aconteça qualquer crescimento, pois ninguém, nem elenco nem autora, poderão enxergar os problemas diante da TV e tentar melhorar, já que a novela está integralmente gravada e este, talvez seja o principal problema desta novela.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Corações Feridos estreia sem chamar a atenção

Acontece nesta segunda-feira a estreia da nova novela do SBT. Inaugurando a nova grade da emissora, entra no ar em novo horário a produção que leva a assinatura de Íris Abravanel, esposa de Sílvio Santos. Corações Feridos já chega com ares de minissérie, uma vez que é uma obra fechada, já que está totalmente gravada há mais de um ano.

Este já é o primeiro problema do folhetim. Uma novela, com a dinâmica de dialogar com o telespectador e tendo sua linguagem própria, corre grande risco ao ser gravada inteira antes de estrear, pois o telespectador certamente irá se sentir distanciado da realidade apresentada pela telenovela. Mesmo assim, é um risco que pode ser contornado com uma boa história.

A estreia não vem cercada de expectativa como normalmente acontece com uma produção do porte no Brasil e este problema é exclusivamente do SBT com sua indefinição da grade no horário nobre. É bem verdade que há pelo menos um ano a emissora avançou e tem mantido sua grade mais fixa, mas enquanto não houver um horário clássico para as novelas, dificilmente irá fidelizar o telespectador de uma produção para a outra.

Exclusivamente sobre a produção, tudo que foi mostrado até o momento indica que este será o melhor trabalho da autora. Carregando o fardo de ser esposa do dono da emissora, Íris vem estudando desde que estreou como novelista e, a tirar pelas chamadas, avançou bastante em relação a qualidade de diálogos e pode começar a receber elogios nesta trama.

O elenco é rodeado por nomes inexperientes e desconhecidos e isso pode ser um problema. Sem um casting que segure o texto, todo o trabalho pode ser jogado fora. Isso seria corrigido com uma direção firme e consolidada, porém não é o que acontece no SBT, experiente em produzir tramas com direção capenga. Com elenco e direção fracos, é difícil esperar muito do folhetim.

Com um estilo mexicanizado, Corações Feridos deve estrear sem chamar a atenção da audiência, mas pode ser uma alternativa para o telespectador que não tenha interesse em assistir jornal, visto que no horário de exibição, todas as outras concorrentes estarão exibindo jornais. O ponto é: se o telespectador zapear pelo SBT no horário se sentirá tentado a manter-se lá por muito tempo?

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