terça-feira, 16 de julho de 2013

Amor à Vida é um retrocesso para a teledramaturgia nacional

O Brasil vem avançando em diversos segmentos quando o assunto é teledramaturgia. Obras importantes entraram no ar nos últimos anos e se tornaram fundamentais para dar um guinada ao modelo de produção dramática para a TV brasileiro. Tanto na TV aberta quanto na TV fechada, o avanço é nítido e salutar para o fortalecimento da marca. Infelizmente a atual novela das 21 Horas, Amor à Vida, representa um retrocesso para as telenovelas brasileiras.

Fosse exibida no final dos anos 80, talvez seria uma trama envolvente e bem avaliada, mas ela está, pelo menos 25 anos atrasada. O modelo adotado por seu autor, Walcyr Carrasco, reúne todos os recursos e saídas adotadas por outros folhetins e que foram sendo abandonados ao longo do tempo. Há quem possa considerar isso um sinal positivo, de retomada de um formato abandonado, ocorre que este formato foi deixado de lado justamente por outros foram surgindo, inovando e deixando muitos desses recursos - senão todos - com cheiro de mofo e pouco cultural.

Quando uma criança pede uma leitura para seu pai, evidente que se ele ler Machado de Assis a criança não compreenderá praticamente nada, pois o texto é muito complexo para quem ainda está construindo valores culturais. Por isso, o público brasileiro foi mastigando textos menos complexos ao longo da história das telenovelas e elas foram fundamentais para fortalecer o estilo no país. Mas atualmente, estamos diante de um público mais maduro - ou que deveria ser - já acostumado a trabalhos menos óbvios e com linhas sensíveis e fugindo do caminho fácil.

O Brasil avançou muito nos folhetins nos últimos tempos. Mesmo no horário das 21 Horas, o público já acompanhou histórias de clonagem (O Clone), tramas policiais intrincadas e complexas (Belíssima), além de textos rebuscados e com diversas camadas (Avenida Brasil). Sentar-se diante da TV para acompanhar texto com saídas óbvias e recursos utilizados nos primórdios da telenovela torna-se um tédio e é prejudicial para o público e para a marca.

O tom de dramalhão incontido, os diálogos infantiloides - que acompanham o autor por praticamente todos os seus trabalhos - e a constante sensação de estarmos numa eterna barriga tornam Amor à Vida uma novela sem charme e que não acrescenta nada. Nem para quem assiste, nem para quem produz, tornando-se um equívoco e um retrocesso.

Se há algum ponto positivo na trama, trata-se de sua direção caprichada. Mauro Mendonça Filho bebeu da fonte de trabalhos mais recentes, tanto em takes, como na fotografia, e mostrou-se antenado quanto aos avanços que o país conquistou. O elenco também, firme e muito bem em cena, é um ponto alto, mesmo diante de um texto rocambolesco e que não produz nenhum tipo de sensação.

Amor à Vida tem uma boa história, mas infelizmente contada a moda antiga e que não consegue ser nostálgica. A saída para um texto que bebe da fonte dos anos 80 e parece parada no tempo seria justamente a nostalgia, mas nem isso ela consegue. Um retrocesso. Apenas isso.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Estreia de Chiquititas aponta para grande avanço do SBT

Após arriscar-se com o remake de Carrossel - que o tempo mostrou ser um acerto - o SBT estreou na noite desta segunda-feira, 15, um projeto ainda mais audacioso: o remake de Chiquititas. Produzir um remake de uma obra que tornou-se cult no imaginário da atual geração de adultos e contribuiu para a formação de praticamente toda uma geração de crianças e adolescentes era um risco sem precedentes. Em termos de fenômeno de mídia era impossível comparar Carrossel com Chiquititas, a segunda fez parte da vida de todo um grupo de pessoas.

O risco era grande, pois além de tudo, trata-se de uma novela mais adolescente e, portanto, poderia perder o público que a emissora ganhou com a exibição de Carrossel por mais de um ano. Os nostálgicos poderiam comparar e não gostar da nova versão e, o pior, os novos adolescentes poderiam odiar todo o clima de inocência e pureza da história. Um mar de riscos. Mas, ao menos na estreia, tudo deu certo.

O grande acerto de Íris Abravanel - responsável pelo roteiro nesta adaptação foi entender que não era necessário arriscar. Pequenos retoques no texto original, trazendo-os para os dias de hoje, foram suficientes. Todas as personagens que marcaram a adolescência dos anos 90 estavam la: Mili, Mosca, Pata, Bia e tantos outros. O texto não se arriscou e mostrou-se burocrático, um grande acerto para um trabalho assim tão ousado.

O elenco também mostrou outro acerto desta estreia. As crianças que, em praticamente todas as aparições de divulgação na grade do SBT, pareciam não ter carisma, ledo engano. Todas elas encorporaram suas personagens e conseguiram o mais importante: transmitir a doçura que o projeto Chiquititas exige. O elenco adulto também fez bonito e merece destaque, parece que vai dar liga.

O ponto alto da noite, contudo, não foi nada disso. O maior mérito é da direção. A compreensão de que trata-se de um projeto juvenil e não infantil foi fundamental para essa estreia ser considerada um acerto, mas a direção foi além e soube construir elementos para manter o público infantil. Pequenas doses de infantilidade num ambiente juvenil foi o tempero correto que a produção precisava para o sucesso. É preciso parabenizar ainda a produção pela competência e avanço. O novo projeto avançou muito no quesito fotografia e direção se comparada a Carrossel. Além de tudo, a abertura é linda e o clipe exibido foi de uma qualidade que impressionou.

Impossível apostar em sucesso ou fracasso, mas a tirar pela estreia, Chiquititas já é um sucesso. Conseguiu, no mínimo, deixar adultos completamente nostálgicos e com olhos brilhantes diante da TV enquanto relembravam momentos únicos. Mais do que isso, essa estreia serve para mostrar que o SBT avança na produção de teledramaturgia.

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