Essa é uma questão que, aparentemente, parece ser simples e óbvia. Afinal, quem iria preferir audiência fácil ao invés de audiência com qualidade? Que profissional em sã consciência consideraria apresentar a seu público um produto ruim, sensacionalista e sem qualidade, apenas em troca de audiência ao invés de um público qualificado, crescente e regular? A resposta não é óbvia.
A televisão brasileira é uma prova clara dos motivos que tornam esta pergunta uma reflexão complexa e quase filosófica. É preciso partir do princípio que o público brasileiro não é mais nem menos exigente que qualquer público. Isso é mera lenda. Como em qualquer lugar do mundo, quando se é apresentado algo de qualidade na TV, o telespectador adora, mas quando é apresentado algo imediatista e que atiça a curiosidade humana, mesmo que sem qualidade alguma, o telespectador também adora.
Partindo desta premissa a dúvida já começa a se estabelecer na cabeça de quem produz televisão. Afinal o que o público prefere? Um produto de qualidade, que consiga misturar entretenimento e cultura ou um programa vazio, sensacionalista e com pitadas de emoções humanas exacerbadas? E, a partir disso, a escolha do estilo de programa começa a se formar na mente dos produtores de TV.
Se é possível fazer um programa de qualidade, como Eliana, pelo SBT e O Melhor do Brasil, pela Record mostraram, então por que ainda somos obrigados a assistir programas horríveis como Domingo Legal e Tudo é Possível? Por que produtores, diretores e apresentadores optam deliberadamente por quadros sensacionalistas, apelativos e quase sempre com premissa sexual quando o público não rejeita bons programas?
A resposta é simples. Falta talento, falta criatividade e falta profissionalismo. Não existem profissionais do gabarito de Eliana com muita facilidade na TV, ela segura um programa muito bem e, por isso, consegue apresentar ótimos quadros sem torná-los enfadonhos. O mesmo ocorre com o excelente Rodrigo Faro que resgatou o papel do animador de TV e com louvor.
Profissionais como Celso Portiolli e Ana Hickman não conseguiriam estar a frente de um programa de qualidade, pois este não é o forte de ambos. Ele, precisa se apoiar no exagero, nas frases de duplo sentido, nas piadinhas insanas e nas situações bizarras para fazer sucesso. Ela não é animadora, não tem cacife para estar a frente de um programa dominical, mas é uma excelente profissional que tem condições de estar a frente de programas mais formais, como era o Hoje em Dia.
Os exemplos foram citados apenas para elucidar a reflexão, muitos outros poderiam ser utilizados, e a discussão não deve ser pautada entre os que gostam e os que odeiam esses programa citados. A discussão é mais profunda, a discussão deveria ser abrangente, sobre a importância do entretenimento para a população. Esses programas são claramente de entretenimento, mas é possível criar entretenimento de qualidade, sem apelação e sem deixar o nível baixo? E por que a insistência em abusar insistentemente para o apelo sexual? É possível criar entretenimento popular fugindo dos clichês e das piadinhas infames?
Muitos consideram que o domingo na televisão aberta é um martírio, normalmente essas pessoas se intitulam intelectuais, acima do senso comum e, portanto, preparadas para fazer uma análise mais interessante. Porém, o senso comum também não é o que dá audiências altas ao Melhor do Brasil? Não é o responsável por colocar o Programa Sílvio Santos como vice-líder de audiência? O público brasileiro não quer e evidentemente não precisa de programas culturais 24 horas por dia, mas ele gosta sim de entretenimento bom, divertido, simples e sem apelação, sem baixo nível.
A aposta por programas sensacionalistas é uma cartada - válida ou não, depende da visão - das emissoras nesta ferrenha briga pela audiência e todas fazem isso sem o menor peso na consciência, afinal, o público também gosta desse tipo de programação, então, exatamente para que se preocupar e passar horas pensando em bons programas, quando os maus dão exatamente a mesma audiência?