Estreou na noite da última terça-feira a produção que comemora os 60 anos da telenovela brasileira. Inspirada na obra de Janete Clair, considerado um dos maiores fenômenos da teledramaturgia nacional, O Astro chegou cercado de pompa, cheio de expectativas e, principalmente, trazendo uma nova aposta de formato para o horário, sempre complicado para a Rede Globo.
A ideia de se colocar uma produção no formato mais vencedor do país - a telenovela - para combater o principal produto da emissora rival, A Fazenda estreia pela Rede Record na próxima terça, foi uma ideia acertada por parte da Globo, principalmente ao realizar uma estratégia de divulgação tão vitoriosa como foi a que vimos, gerando no público um grau de expectativa poucas vezes visto.
Independente de tudo isso, o primeiro capítulo de O Astro teve um saldo positivo, com boas atuações, roteiro interessante e encaminhamento interessante para chamar a atenção do público, porém, os autores se equivocaram ao optar pelo ritmo da estreia e isso ficou bem claro em todos os momentos. Como a produção se aproxima muito mais de uma macrossérie do que propriamente de uma novela - apenas 60 capítulos - isso permite que não haja barriga e a história seja contada de forma mais rápida, mas velocidade e pressa são completamente distintos.
O que se viu no ar foi uma apresentação muito rápida de cada um dos personagens e que, em alguns momentos, acabou por comprometer a profundidade e densidade par que o telespectador pudesse se identificar com eles. Alguns destes personagens foram apresentados como se estivessem ali o tempo todo, como se fosse um vizinho, um amigo e isso é muito perigoso, pois pode fazer com que o público não se sinta envolvido e, portanto, não compre a história como verossímil.
O roteiro, mesmo apressado, foi seguro. Bons diálogos e seqüências muito bem planejadas foram levadas ao ar, isso ajuda na composição das personagens. Graças a um elenco de peso e que esteve quase sempre muito bem afinado, deu garantia de ótimas atuações neste primeiro capítulo. O destaque positivo do elenco na estreia coube a Carolina Ferraz que já conseguiu convencer, encantar e chamar para si toda a responsabilidade de mocinha deste projeto.
O ponto baixo, contudo, foi a composição de Salomão Hayala. Daniel Filho voltou a atuar mostrando sua incrível competência, mas o texto, neste caso, não ajudou muito. O roteiro tentou a todo custo mostrar o personagem como arrogante, frio, capitalista e rude. Não conseguiu. Em todas as seqüências o que se viu foi um amontoados de falas feitas e completamente irreais - a cena em que Salomão chama a atenção de seus funcionários, na festa em sua casa, foi de um constrangimento sem tamanho. Óbvio que os autores tentam tornar o personagem odiado pelo país para garantir a mesma repercussão de sua morte, mas, se não pensarem melhor seu texto, não vão conseguir.
Mesmo com essas falhas que atrapalharam bastante a estreia, O Astro mostrou força, trouxe de volta uma história bem amarrada e permitiu que o público mais jovem conhecesse de perto uma construção narrativa daquela que é considerada a dama da teledramaturgia brasileira, Janete Clair. Mas, é preciso corrigir os equívocos se quiser garantir o mesmo sucesso da obra original.
Em tempo: O Astro estreou com média de 27 pontos, na prévia do Ibope.