Se bem me lembro, desde os 10 anos optei por ser jornalista. Nunca houve em minha mente uma reflexão aprofundada sobre as possibilidades que poderiam se abrir diante de mim em outras profissões. Apesar da resistência de minha família, em nenhum momento cogitei seguir outro caminho que não este.
O único momento em que tive dúvidas de que ser jornalista era o melhor para mim ocorreu já na faculdade. A cobertura jornalística do caso Richthofen foi uma coisas mais nojentas que ocorreu na história recente do jornalismo. A maneira como a mídia atacou o garoto Andreas Richthofen, garantindo que ele era cúmplice da irmã, enquanto ainda haviam investigações, foi de tal maneira absurda que poderia ter destruído o resto de sobrevivência que o garoto teria.
Naquele momento eu questionei se era aquilo que eu queria para mim. Em conversa com professores, fui convencido de que nem toda a mídia é assim, de que para ser um profissional do jornalismo, não é necessário ser carniceiro, não é preciso se ocupar de desgraças alheias para ser profissional.
Agora, mais de 07 anos depois de formado, novamente me deparo com um caso parecido. Confesso que fiquei surpreso com a cobertura moderada que as emissoras abertas do país vinham fazendo ao longo da semana do caso Nardoni, cheguei a comentar isso com amigos. Mas o desfecho do julgamento, a noite de sexta-feira quando o Júri votou pela condenação do casal, foi um dos episódios mais lastimáveis da história da TV brasileira.
A BAND apresentou um Toda Sexta especial com Adriane Galisteu e Marcelo Resende comentando o caso. Marcelo Resende que, aliás, certamente não se lembra dos tempos de bom profissional. O sensacionalismo em cima da morte de uma menina foi de dar náuseas a qualquer bom telespectador.
Quem foi merecedora de elogios ao longo da semana, jogou tudo pelo ralo na sexta. A Rede Record, especialistas em coberturas sensacionalistas, desta vez ultrapassou todos os limites. Foram 07 links e 02 helicópteros sobrevoando o Fórum de Santana enquanto aguardava o veredito do casal Nardoni. Todas as "informações em primeira mão" ditas daquele jeito nojento de se fazer jornalismo, não medindo esforços e não respeitando a dor dos envolvidos. Deplorável.
A Rede Globo, como sempre, preferiu perder a liderança de audiência no horário a descer o nível nesta cobertura medonha e neste circo que foi feito em torno de um julgamento que não dizia respeito a sociedade. O julgamento não era de pessoas que fizeram qualquer transgressão contra a sociedade, portanto, dizia respeito apenas aos envolvidos e a justiça. A emissora carioca apenas informou quando saiu o veredito, exatamente como deve ser feito.
Num momento como este é que dá vergonha de ser jornalista. É assistindo a cobertura sensacionalista, marginal, anti-profissional e que não respeita a dor alheia é que se perde o ânimo de ter orgulho de sua profissão. E mais, assistir ao patético espetáculo do "público" do lado de fora comemorando a condenação, nos faz sentir vergonha de ser brasileiro. Culpados ou inocentes, tanto faz, o momento não exigia comemoração, afinal, estamos falando de uma menina que perdeu a vida aos 05 anos de idade. Isso é motivo para fogos de artifício? É motivos para a mídia se aproveitar e ganhar uns pontinhos de audiência. Lastimável país este em que vivemos.