sábado, 5 de fevereiro de 2011

Vale a Pena?! Vale Tudo

“Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?” Esse foi o ponto de partida para a criação da sinopse de Vale Tudo, novela escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères em 1988. 

O final da década de 80 foi um período histórico complicado para o país, que vivia uma grande crise econômica e moral. A lei de Gérson imperava e todos queriam, de uma forma ou de outra, “se dar bem”.

Falar sobre política e corrupção nunca foi novidade na teledramaturgia nacional. Dias Gomes usava as suas metáforas, aliadas ao realismo fantástico, para fazer isso em obras como O Bem-Amado (1973), Saramandaia (1976) e Roque Santeiro (1985/1986). Lauro César Muniz não ficou atrás e fez duas novelas emblemáticas, Escalada (1975) e Roda de Fogo (1986/1987) falando respectivamente sobre a história recente do Brasil e sobre os crimes dos colarinhos brancos. Apesar da crítica, sempre houve uma “distância segura” entre o público e a obra, mas Vale Tudo chegou para acabar com isso.

Acostumados com os desmandos e falcatruas dos vilões e vilãs das novelas e de condená-los por seus atos, os telespectadores se surpreenderam ao ver personagens tidos como “bonzinhos”, tendo pequenos atos de desonestidade durante a trama de Vale Tudo. Um exemplo disso é a cena em que Aldeíde (Lília Cabral) rouba rolos de papel higiênico da empresa em que trabalha, para levar pra casa. Se os vilões Marco Aurélio (Reginaldo Faria) e Odete (Beatriz Segall) eram os responsáveis pelas grandes maldades, por outro lado, o taxista que dava voltas para cobrar a mais, ou a dúzia de salgadinhos que deveria vir com treze, denunciava o tipo de mentalidade que se instalara no Brasil daquela época. Não eram vilões agindo de forma errada, mas pessoas comuns como eu e você. Essa era a grande denúncia de Vale Tudo.

A identificação com o “jeitinho brasileiro” era tão grande que, acredito que pela primeira vez na história da teledramaturgia, o público torceu para que a vilã se desse bem. Apesar de todas as maldades que fez com a mãe, Maria de Fátima (Glória Pires) teve a simpatia dos telespectadores, que vibravam a cada armação sua que dava certo, atitude sintomática das denúncias que o texto da novela fazia. Vale Tudo foi uma novela moderna e à frente do seu tempo e talvez por isso, seja lembrada até hoje.

Passados vinte e três anos, e em reprise pelo Canal Viva, Vale Tudo mostra agora o que mostrou em 1988 e, surpreendentemente, é a novela mais atual que está no ar. Enquanto as tramas produzidas agora se apegam aos clichês baratos, mais uma vez a novela de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Basséres chama atenção pelo frescor do seu tema, principalmente na forma como ele é abordado. Vale Tudo não faz merchandasing social, ele insere a denúncia nos pequenos fatos do cotidiano das personagens. Nada nos diálogos é gratuito ou forçado. Realismo levado à melhor das potências.

Vale Tudo é moderna e surpreendente, e isso mostra que a essência do país não mudou. Se vemos um texto escrito há vinte e três anos e ainda assim conseguimos nos identificar, isso significa que as denúncias que ele faz ainda são necessárias e pertinentes. O taxista continua querendo cobrar a mais, as Aldeídes continuam pegando os rolos de papel higiênico e alguns donos de supermercados tem a coragem de cobrar sessenta reais por um galão de água (que custaria seis) de desabrigados pelas tempestades. A lei de Gérson ainda impera. O “jeitinho brasileiro” ainda está por aí.

A pergunta feita em 1988 ainda ecoa em pleno 2011. Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?

Por Walter de Azevedo

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Insensato Coração ainda é apenas um amontoado de núcleos

Lá se foram duas semanas e meia desde a estreia da nova novela das 9 (agora, até a própria emissora divulga assim) da Rede Globo. Com a assinatura de um dos mais geniais dramaturgos do país, Gilberto Braga, Insensato Coração conta ainda com outro nome de peso em sua criação, Ricardo Linhares. A parceria dos dois autores renomados que, juntos, fizeram tanto sucesso em Paraíso Tropical pode se repetir em 2011, mas, não é o que parece, ao se olhar os primeiros capítulos da trama.

Após a estréia mais fraca de uma novela de Braga, Insensato Coração entrou nos eixos já a partir do segundo capítulo e conseguiu conquistar o telespectador. A trama é ágil, cheia de acontecimentos e, até aqui, conseguiu apresentar mais de uma dezena de capítulos sem que se visse trechos das famosas "barrigas". Isso é um mérito que deve ser elogiado, afinal, não é fácil conseguir criar uma gama tão grande de cenas interessantes todos os dias.

Ainda assim, o folhetim não lembra nem de longe a marca registrada do autor. O que se vê diariamente por mais de uma hora é um amontoado de núcleos que não conseguem se comunicar entre si e não chamam a atenção como uma obra única. São personagens com histórias completamente diferentes e que não transitam entre os vários núcleos da novela. Isso é um problema grave, principalmente porque tira um dos atrativos do formato que é justamente essa proximidade entre todos.

Além disso, a maioria dos núcleos é desinteressante e não chama a atenção. A história de André Gurgel (Lázaro Ramos) e Carol (Camila Pitanga) já começou a dar sono e olha que está apenas no começo. A trama de Natalie Lamour (Débora Secco) beira o insuportável de tão caricata e clichê. O pior mesmo tem sido o núcleo dos protagonistas, Marina (Paola Oliveira) é das mocinhas mais toscas dos últimos anos e Paola Oliveira não consegue encontrar o tom da personagem deixando-a irritantemente chata, assim como Eirberto Leão que interpreta o mocinho Pedro, péssimo ator num péssimo papel.

Mas Insensato Coração tem coisas boas. Antônio Fagundes e Natália do Vale dando show no papel do casal Raul e Wanda, Débora Evelyn num papel que promete ser o melhor de sua carreira, com a desvairada, porém boa pessoa, Eunice. Mas a trama tem um casal de donos e ele atende pelo nome de Norma (Glória Pires) e Léo (Gabriel Braga Nunes).

Gabriel Braga Nunes que parecia perdido nos primeiros capítulos achou o tom de seu vilão e conseguiu dar a ele cara e voz corretos. Léo é a expressão pura da maldade movida por inveja, ressentimento, mágoa, desejo de provar-se, enfim, ele tem uma história. Ja Glória Pires mal entrou na novela e já roubou a cena para ela. Norma ainda nem é a vilã que o autor prometeu - ao que parece, ela se torna vilã após o capítulo 60 - mas a atriz soube compôr com maestria uma personagem solitária, insegura, carente e presa fácil para Leo. As seqüências da dupla estão ótimas.

Enfim, Insensato Coração ainda não é uma novela que transpira sucesso, mas tem algumas histórias que podem chamar a atenção e segurar todo o folhetim ao longo dos seus 08 meses de exibição. É o que se espera.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Uma dúvida: O que aconteceu com Eliana?

Já faz um ano e meio desde a estréia de Eliana nos domingos do SBT. Na época, a loira chegou abalando toda a estrutura de programação dos domingos da TV brasileira. Fez estragos na concorrência e conseguiu números de audiência que impressionavam - chegou a picos de 17 pontos, média de 13 e a liderança contra todos os concorrentes - mas, com férias prematuras, o extraordinário programa perdeu audiência e, a partir de janeiro de 2010 começou a se perder completamente.

Não era apenas audiência que Eliana apresentava. Era conteúdo da mais alta qualidade. Quando surgiu em agosto, o programa era inovador, trazia quadros diferentes e apostava em qualidade para reunir toda a família diante do aparelho de TV nas tardes de domingo. A briga por audiência dominical sempre foi feroz e a concorrência fez de tudo para derrubá-la, apelando para todo tipo de baixaria até conseguir números no Ibope.

Sem a liderança, sem os altos picos, sem a vice-liderança e já com o terceiro lugar ameaçado, Eliana então se perdeu. A direção do programa começou a colocar os pés pelas mãos, tentou apostar na inovação, apresentando um programa feminino que se encaixaria melhor nas manhãs como o Mais Você e jogando para as tarde de domingo com disputa acirrada por audiência. Óbvio que não funcionaria ter um programa monótono e sonolento.

Até apelar o programa tentou. De forma muito mais leve que seus concorrentes, verdade seja dita, mas alguns quadros de péssimo nível afastaram os telespectadores mais "cults" e fez com que o programa entrasse em outra crise além da de audiência, a de identidade. Atualmente, no apogeu de sua crise, é impossível dizer de que se trata Eliana.

O programa que na estreia fez uma excepcional entrevista com a pequena Maysa, que já teve ótimos quadros musicais, que já apresentou Eliana em algumas viagens realmente interessantes, que levou-a a entrevistar famosos em suas residências, atualmente é um amontoado de atrações sem graça, sem personalidade e que não chama a atenção de ninguém. É a maior queda de qualidade que um programa já viu.

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