terça-feira, 25 de junho de 2013

Saramandaia acerta ao inserir debate político

Estreia da última segunda-feira, 24, a nova novela das 23 Horas, Saramandaia - obra original de Dias Gomes e com assinatura de Ricardo Linhares neste remake - iniciou num momento tão cirúrgico para o país que, em determinados momentos, a semelhança entre ficção e realidade causaram certa estranheza em parte da audiência.

Como se sabe, o principal objetivo de uma novela é entreter, mas já debatemos inúmeras vezes a possibilidade de se criar elementos culturais e artísticos pelos olhos da teledramaturgia e, quando se consegue este objetivo, a obra em si consegue atingir um patamar elevado, pois conseguiu contribuir na formação de seu público. Embora este debate seja recorrente, ele continua de fundamental importância e, aparentemente, autores e produtores têm se preocupado cada vez mais em levar produtos de qualidade e com algum objetivo cultural.

Especificamente nesta estreia, acompanhar borbulhar político que vive o município de Bole-Bole - em que dois grupos de moradores debatem a mudança ou não do nome da cidade para Saramandaia - causou uma proximidade tão grande entre público e obra que, em determinados momentos, a novela parecia encomendada pela emissora por conta do clima de protestos que o Brasil atravessa.

Mesmo com as coincidências por trás  disso - e são apenas coincidências, a novela estava encomendada há tempos - é preciso curvar-se diante do brilho de Dias Gomes. Uma obra escrita há décadas torna-se tão atual graças ao descalabros políticos que o país vive desde aquele período até hoje. Mas é preciso também mencionar a sensibilidade do autor deste remake, Ricardo Linhares, que soube transportar toda a estilística do autor original para os problemas atuais de nosso país.

Neste primeiro capítulo já se percebeu que Saramandaia chegou para colocar o dedo na ferida. Travestida de comédia, a trama não é um simples drama, mas é um mar de críticas por todos os lados e a todos os grupos - inclusive ao próprio povo. É importante enxergar as muitas camadas de críticas que a novela faz, as mais óbvias e as mais densas - estas, através dos estranhos personagens que enxergaremos melhor ao longo da exibição e que todos possuem um caráter simbólico importante.

O momento vulcânico que o Brasil atravessa mostra-se bastante favorável a uma trama assim, que permite-se criticar a política e a sociedade brasileira sem medo de cutucar a ferida de forma profunda. Ao menos nesta estreia, Saramandaia lembrou bastante outra obra icônica - Anos Rebeldes - que tinha forte cunho político e acabou coincidindo com outro momento importante para a democracia brasileira, os cara-pintadas. 

Num momento de aparentes mudanças fundamentais para a sociedade brasileira, a TV cumpre seu papel no jornalismo, na cobertura de massa, mas aparentemente, também conseguirá marcar presença na teledramaturgia, através do timing perfeito que a Rede Globo teve  - por pura sorte, diga-se - em levar ao ar a melhor novela para este momento. E esperamos que as discussões em Bole-Bole possam levar o povo brasileiro a reflexões sobre nossas próprias discussões.

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