Escrever uma crítica tendo este título é das tarefas mais árduas. Certamente, para tentar encontrar uma resposta aceitável seriam necessários anos de pesquisa científica e, provavelmente, encontraria-se, sérios problemas dada a dinâmica do telespectador mediano da TV brasileira. Atualmente, é uma tarefa hercúlea para os diretores de programação encontrar produtos que se encaixem ao perfil do público e, mesmo quando isso ocorre, as chances de rejeição não são baixas.
Numa análise simplória, poderia-se dizer que o telespectador brasileiro, com a imersão da classe C, piorou bastante nos últimos anos. Basta notar que a novela de maior sucesso da última década foi Senhora do Destino, uma trama extremamente popular, mas sem grandes valores criativos. Atualmente, dois fenômenos justificariam essa crença. Fina Estampa - por coincidência, escrita por Aguinaldo Silva que também escreveu Senhora do Destino - e Rei Davi são dois claros sucessos de audiência, cada qual em sua emissora e com sua respectiva meta de números. Outra coincidência é que ambas não acrescentam absolutamente nada para a teledramaturgia, é apenas a reciclagem dos mesmos clichês e das mesmas construções maniqueístas, além de entregar tudo mastigado para um telespectador preguiçoso.
Ao basear-se nos dois sucessos do momento e enxergar que uma trama bem amarrada, muito bem construída e que foge de todo tipo de obviedade feito A Vida da Gente, é um fracasso retumbante de audiência, a conclusão óbvia e simplória é: o público brasileiro gosta de lugar-comum na teledramaturgia, gosta de tudo pronta e de mais do mesmo.
Será? O sucesso de público e crítica de Cordel Encantado mostra que essa afirmação não é totalmente verdadeira. Uma construção sólida, sóbria e que uniu diversos elementos de teledramaturgia que pareciam incombináveis fez sucesso diante do público e mostrou que o telespectador gosta de produtos com qualidade.
Mas como justificar os recentes trabalhos de grande qualidade e que não tiveram o resultado esperado? Foi assim com a série O Brado Retumbante e, um pouco mais atrás, com a novela Poder Paralelo. Difícil responder esta pergunta, mas, aparentemente, o público brasileiro se interessa ou não por uma obra desde a estreia. Se, no começo, ela já for um fracasso, as chances de reverter isso são pequenas - mas não impossível.
De qualquer forma, a pergunta-título acaba ficando retórica porque atualmente é impossível entender a mente do telespectador brasileiro. A única certeza é que o autor precisa fazer com o que o público compre sua história porque, quando o telespectador acredita que o que está vendo diante da TV é verdade, é algo próximo de si, ele compra a história e se torna fiel. Parece ser o único caminho possível e, o único palpável atualmente.