segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Zona de Conforto atrapalha Ratinho

Cada profissional tem sua característica e é preciso respeitá-la. Em qualquer área de uma profissão quando o gestor percebe em seu corpo de funcionários o talento de cada um e, na medida do possível, consegue adequar a realidade do cotidiano da empresa para que seu funcionário consiga desenvolver o trabalho utilizando-se seu talento, as chances de sucesso são sempre maiores. Todos os modelos de empresas com gestão de pessoas trabalham assim nos dias atuais e vem obtendo sucesso.

Falar sobre gestão de pessoas num texto sobre TV pode parecer estranho e até ranhoso, mas não é. Principalmente porque este texto tem o objetivo de tentar desmistificar um pouco o que foi dito no primeiro parágrafo, sem contudo fugir das boas práticas da coerência. Não vamos contrariar a regra de gestão de pessoas, mas mostrar que, em alguns casos, ela acaba enrijecendo um trabalho.

Carlos Massa, o Ratinho, surgiu na TV na segunda metade da década de 90. Seu jeito despojado comandando o policial 190 da Rede CNT chamou a atenção das Redes Abertas e alavancou o jornalista a um status de estrela. Rapidamente, Ratinho se transformou numa celebridade, migrando-se para a TV Record, terceira colocada em audiência na época. Afastando-se dos programas policiais, o apresentador comandou uma espécie de programa de auditório, controverso, e cheio de polêmica. 

Assombrou a mídia e a crítica ao fazer de seu programa - considerado de péssimo nível por ter brigas, palavras de baixo calão - como o mais assistido da emissora e com picos de liderança, sempre que acabava a novela das 21 Horas da Globo. Um tempo depois, o apresentador levou seu jeito e o formato de seu programa para a emissora vice-líder de audiência, o SBT. Os primeiros anos foram de retumbante sucesso, atormentando, em audiência, inclusive novelas das 21 Horas.

Muitos anos se passaram e, no SBT, Ratinho enfrentou crises. Viu sua audiência cair vertiginosamente ao longo dos anos, acompanhou a crise da emissora e acabou na geladeira. Depois, mudou de formato, de horário, e sempre fracassou. Parecia fato que seu estilo havia sido apenas um desses fenômenos televisivos com prazo de validade.

Com a reformulação da emissora para tentar brigar novamente pela vice-liderança, o apresentador voltou a seu horário de origem, 21 Horas. Atualmente é a grande sensação do horário do nobre. Evidente que seu programa não atinge aqueles números impressionantes do início da carreira, mas a realidade da audiência é outra. Fato é que, disputando 90% do tempo com a novela das nove, Ratinho vem conseguindo se manter com média próxima aos dois dígitos e, ao final da novela, atingindo picos muito próximos da liderança. É a década de 90 voltando.

A produção do Programa do Ratinho conduz o programa de um jeito semelhante ao do começo. Porém, é preciso observar que o programa está muito mais politicamente correto, principalmente porque a TV brasileira enfrenta um momento de crise de ousadia, abaixando a cabeça para a censura embutida que a Justiça vem colocando nos últimos anos. O programa não é ruim, mas está longe de ser aquele programa despojado, corajoso e polêmico de outras épocas.

O que salva, inclusive, o formato é justamente seu apresentador. E aqui chegamos ao ponto em questão. Ratinho não é um jornalista investigativo que denuncia crimes, como no início da carreira em que, de cacetete nas mãos, fazia o papel de justiceiro na TV. Ele também não é o apresentador despojado de um programa controverso, papel que desempenhou por anos. Ratinho é a soma disso tudo, ele é um comunicador nato com domínio de palco, de microfone e de câmera como poucos na TV possuem.

Como dissemos no primeiro parágrafo deste texto, uma boa empresa é aquela que consegue enxergar o talento de seu funcionário e fazer com que ele exerça seu trabalho desempenhando seu talento. O SBT sabe o quanto Ratinho é polêmico e separou um horário especial e um programa assim para ele. Mas tanto o apresentador quanto a emissora se prenderam a isso. Ratinho poderia ir muito mais longe se a emissora e ele  próprio tivessem a compreensão de que é um comunicador importante, um dos melhores do cenário atual no país. Ratinho poderia facilmente reinventar a TV brasileira como fez no fim da década de 90, bastava para isso que saísse de sua zona de conforto e ousasse um pouco mais.

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