terça-feira, 27 de novembro de 2012

A Qualidade Técnica em detrimento do Roteiro

Novo milênio e novas descobertos técnicas para a arte. É assim que convivemos diariamente. A cada dia surgem novas perspectivas técnicas que visam dar um apuramento melhor nos mais variados tipos de arte existentes. Essa máxima de se preocupar com os detalhes e proporcionar o filé no campo técnico acaba por formular uma questão importante: a técnica ou o conteúdo? Sob o ponto de vista do público-alvo, qual das duas é a mais importante?

Vivemos dois paralelos importante ao tratar deste assunto. No campo da Literatura podemos destacar as obras de Paulo Coelho, escritor brasileiro mais bem sucedido no mundo atualmente. Como característica principal, ele não aceita que seus livros passem por revisão linguística. Segundo sua concepção, o texto quando finalizado pelo autor, deve ser publicado daquela forma para que não perca a magia do momento em que quem escrevia refletia. É uma opção que precisa ser respeitada, ainda que muitos discordem.

Na TV há um exemplo parecido. O SBT leva ao ar as últimas semanas da novela mexicana Maria Mercedes. Quando decidiu colocá-la em exibição, satisfeito com os números conquistados pelas outras duas tramas de Thalia, a emissora levantou uma questão que virou tema de debate. A primeira das Marias de Thalia foi gravada em meados da década de 90 e sua qualidade técnica estava bem abaixo das outras duas, e olha que todas elas já estão abaixo do que se vê atualmente na TV.

É evidente que tanto Paulo Coelho e seus livros quanto o SBT com a exibição de Maria Mercedes não chegam a entregar a seus públicos algo com erros crassos. A imagem da novela não é falha e não chega a incomodar a ponto de atrapalhar quem assiste para acompanhar a saga da protagonista. Mas é, indubitavelmente, abaixo do que se vê atualmente e do que o telespectador vem se acostumando.

É preciso compreender um pouco a dinâmica das produções para tentar analisar a questão. Os filmes hollywoodianos contam com um produtor-executivo, tal qual as séries de TV daquele país. Estes produtores são os responsáveis pelo todo do produto: escolha de elenco, cachês, patrocinadores, até questões técnicas, como escolha do diretor e estilo de fotografia, cenas, acústicas, externas. O produtor-executivo nem sempre é o roteirista da obra, é importante frisar.

No Brasil, a Rede Globo utiliza a figura deste produtor em sua grade. Trata-se do diretor de núcleo. Para as telenovelas, o diretor de núcleo não é o responsável direto por dirigir as cenas, mas é ele quem produz a obra. Ele é a voz da emissora para dar vazão ao produto. Com um papel um pouco diferente, pois não decide cachê, mas dá a palavra final na escalação do elenco, entre outras coisas.

A direção de núcleo avançou muito na Rede Globo e tornou-se responsável por um apuro técnico tão grande na teledramaturgia que, às vezes, chega a assustar. Veja o caso de Cordel Encantado, uma obra perfeita tecnicamente, com um novo estilo de uso de câmeras, fotografia impecável, figurinos dignos de nota, áudio e vídeos excelentes. Isto tornou-se parte do padrão Globo de Qualidade, tanto que este apuro técnico levou Araguaia a concorrer ao Emmy Internacional no ano passado, ainda que a novela não tenha sido, nem de longe, o grande destaque daquele ano na TV brasileira.

Atualmente vê-se essa preocupação técnica em Lado a Lado e também em Salve Jorge. Ambas as novelas são tecnicamente perfeitas, mas pecam quando o assunto é roteiro. E isso levanta a questão tratada no começo deste texto. São muitos os exemplos de obras tecnicamente perfeitas, mas que pecam no texto. Além das duas novelas já citadas, podemos lembrar de Avatar, filme de James Cameron que contou com diversas inovações tecnológicas, mas que acabou contando uma história aquém de todo o trabalho enquanto produção.

Num país como o Brasil, será que a preocupação técnica deve ser mais importante que o roteiro? É preciso lembrar que o diretor de núcleo não é o autor da novela e, aparentemente, tem menos liberdade sobre o roteiro do que um produtor-executivo americano. Mas é preciso que a emissora analise isso: não está na hora do roteiro ter o mesmo tipo de preocupação por parte de quem produz que a fotografia, os cenários e os figurinos estão recebendo? Vale a pena produzir uma obra plasticamente tão linda, mas com um texto tão pobre? Se tivesse que escolher entre uma novela linda visualmente, com texto fraco e com grande texto, mas tecnicamente apenas correta, o que o telespectador preferiria? É de se refletir.

4 Quebraram tudo:

Sérgio Santos disse...

Daniel, excelente texto, mas discordo totalmente quando você cita Lado a Lado como um exemplo de roteiro fraco e texto pobre. A novela é tecnicamente perfeita, sim, mas tudo nela é um acerto; atores, personagens, história, texto, enfim. Tirando isso, concordo com tudo. ps: Araguaia, sim, pode ter sido tecnicamente perfeita, mas foi uma novela péssima e com uma história ridícula.

Benjamim Junior disse...

Em suma, a mais avançada tecnologia visual poderá estar daqui ha um mês mais do que ultrapassada, então é preciso dar melhor atenção a qualidade do roteiro para que a produção seja lembrada e prestigiada ao longo dos anos.

@aletv2 disse...

Uma aula esse teu texto, mas como leigo assumido tenho as minhas técnicas de avaliar a qualidade de uma obra (haha). Precisa ser arrebatadora e emocionante. Atualmente, nada na TV aberta me prende. Abraço, Alê.

mani67 disse...

Concordo, Lado a lado é fraca,com vários atores capengas,um dos casais mais sem sal ,açucar e pimenta da tv mundial(Pitanga e Ramos)dois atores que não combinam e os escaladores de elenco insistem em juntar os dois.

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