sábado, 24 de novembro de 2012

Carrossel e a simplicidade de um produto mercadológico

Relutei bastante para escrever um texto sobre Carrossel neste espaço novamente. Pelo simples fato de que parece bastante complexo analisar um fenômeno de audiência na proporção da novelinha produzida pelo SBT com a assinatura de Íris Abravanel. Uma rede de televisão que há muito tempo perdeu a tradição em produzir dramaturgia alcançar números de audiência e repercussão tão expressivos é um indicativo importante, mas não tão simples para se analisar.

Parece ser ponto pacífico que, do ponto de vista dramatúrgico, o remake da produção mexicana que parou o Brasil no início da década de 90, é o pior no ar entre as principais emissoras do Brasil. Enquanto arte, a produção peca em diversos elementos e oferece uma opção pobre de entretenimento quando se avalia exclusivamente a técnica dos elementos em cena. 

Cenário, iluminação e figurino são completamente equivocados e mostram um investimento  tímido num produto que vem gerando milhões de lucro para seus produtores. O elenco deixa a desejar, embora os responsáveis pelas crianças tenham conseguido, num espaço de tempo curto, torná-las bastante carismáticas em participações em outros programas, o que acaba conquistando o público, mas verdade seja dita, praticamente ninguém do elenco parece dominar a arte da interpretação. A direção de cena que consegue tirar o foco dos problemas acima citados e manter-se exclusivamente no roteiro mostra-se um grande acerto, assim como o texto de Íris Abravanel.

Aliás, o texto da autora é o grande mérito para o sucesso de Carrossel. Ela não escreve um roteiro brilhante e está muito longe de produzir grandes reflexões ou discussões acerca das crianças do mundo moderno neste início de milênio. Íris optou por um signo diferente: a simplicidade. O texto é quase pobre, não se importa em ser óbvio e ostensivamente didático, lembrando muito as produções da TV Cultura nos anos 90 e que fizeram bastante sucesso. Todo conflito na novelinha tem a mesma estrutura: a criança é colocada numa situação, reage de uma forma - os bonzinhos da forma correta e os pequenos vilões de forma equivocada - há o momento de tensão em que tudo parece dar errado, por fim tudo dá certo e, claro, há o texto com uma lição de moral explícita.

Enquanto arte, Carrossel não é uma maravilha, está muito longe disso, aliás, conseguindo, com sorte, ser medíocre. Porém, enquanto produto mercadológico - feito para vender para um público específico - a produção mostra-se acertada. A autora e o diretor não se envergonham em não produzirem algo profundo para as crianças que vivem conflitos muito mais complexos do que há 20 anos, eles copiaram o modelo de sucesso dos anos 80 e 90 e levaram as crianças de volta para a frente da TV. Assistir Carrossel não provoca absolutamente nada nas crianças, nenhum senso de conhecimento, é puro entretenimento didático.

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