quarta-feira, 7 de março de 2012

A Religião nas telenovelas. Até onde ir?

Uma temática recorrente nas telenovelas mundiais é o uso da religião como fonte de inspiração para a manutenção da linha narrativa das tramas. A religião sempre permitiu sopro de criatividade nas mãos de autores consagrados, mas sempre funcionou quando era utilizada como pano de fundo ou mero elemento de cenografia. São raras as ocasiões em que a religião foi protagonista de uma história e ela conseguiu se adequar a todos os tipos de público.

O exemplo mais emblemático disso, talvez, seja a primeira novela de Elizabeth Jhin para a Rede Globo. A autora do atual folhetim das 18 Horas estreou como titular na assinatura de uma obra com Eterna Magia. A proposta inicial desta produção era apresentar para o público uma religião fascinante, porém cheia de mistérios, falta de conhecimento e até ignorada pelos brasileiras: A Wicca. A trama, apesar de linda, foi duramente criticada por membros de outras religiões e rejeitada prontamente pelo público, sempre tradicional, e teve que receber mudanças drástica para se manter no ar.

Atualmente, Jhin apresenta em Amor Eterno Amor um tema um tanto quanto delicado do espiritismo. Os pouco conhecidos índigos. O protagonista da novela é uma criança índigo e o folhetim tenta construir sua linha narrativa através do tema, sem contudo se aprofundar ou utilizar esta palavra. No texto do segundo capítulo, a personagem Verbena serviu como voz da autora ao explicar: "acredito que toda criança nascida nas três últimas década veio para tornar este mundo um pouco melhor".

Aparentemente Jhin aprendeu com os problemas enfrentados por Eterna Magia e sabe o caminho a percorrer para não ter uma trama religiosa rejeitada. Escrito nas Estrelas, seu segundo trabalho na emissora, também apresentou temas religiosos, mas sem utilizar a fé como ponto principal, ela conseguiu agradar o público. A expectativa é que isso se repita com a trama atual.

Mas até onde um autor deve ir ao abordar a religião em suas obras? É uma pergunta delicada e exige muita reflexão, mas o ideal é que o novelista saiba exatamente qual sua proposta ao inserir a religião. Quando se apresenta quaisquer religiões como protagonista ou fio condutor de uma proposta, o autor precisa compreender que está trilhando um caminho perigoso, pois está lidando com a fé humana. O brasileiro leva religião muito a sério para enxergá-la apenas como elemento ficcional na construção narrativa, portanto, se um autor apresenta uma religião como única verdade e esta religião é contrária a fé do telespectador, é provável que ele perca este público.

Evidente que existem exceções. O caso mais conhecido é a novela A Viagem que teve o espiritismo como principal mote e agradou a todos, pois Ivani Ribeiro soube dar o tom correto de ficção de forma que as outras fés não se sentiram ofendidas. Em contrapartida, Alma Gêmea, outra novela espírita, não tratou do tema com seriedade, mas o colocou apenas como alegoria e por isso o telespectador mal se preocupou com o assunto, mantendo-se focado apenas no enredo. Duas Caras também apresentou o tema, ao mostrar o lado fanático dos evangélicos e causou a ira destes por tratar de forma caricata a religião É difícil acertar quando se propõe a falar de religião, mas ignorar este fenômeno também seria um equívoco, pois ele faz parte do ser humano. O desafio é acertar na dosagem.

1 Quebraram tudo:

Paula Teixeira disse...

Então. A Globo parece estar numa campanha em prol do Espiritismo. Já foram vários programas tratando do assunto. Nosso país ainda tem maioria católica e essa maioria é bem mais ecumênica e tolerante do que o crescente grupo denominado evangélico.

"A viagem" se pautou também mais na constante guerra entre o bem e o mal, utilizando a visão do espiritismo.

Eu assisti um pouco de "Eterna Magia" e achei que ela foi truncada, não houve uma relação mais profunda entre o enredo da novela e a religião. Minha opinião.

Assisti só ao capítulo de ontem de "amor eterno amor". A Jhin, pelo que li, vai se guiar pelo espiritismo para além da discussão sobre índigo e cristal. Acho que só a ideia da abertura de amor predestinado, alma gêmea, já tem uma ideia espirita (apesar de que outras religiões pensem o mesmo, sobre o determinismo nas relações amorosas). O engraçado é que a Miriam, não a Elisa, aparece mais ligada a ele na idade adulta. Lembro de uma cena de ambos olhando as estrelas, cada um ainda no seu mundo, eles ainda não se conheceram.

Acho que vão falar um pouco sobre indigo e cristal a partir da relação da personagem da Kasting e do Camargo. Mas essa ideia anda espalhada por aí, mas com outro nome: Geração Y e Z. O Carlos é índigo enquanto a Clara é cristal (ainda mais evoluída). Mas duvido muitooooo que renda grandes discussões.

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