quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A Entrega na Arte da Interpretação

A arte de interpretar é muito mais de conhecimento técnico do que propriamente de talento. Em tempos em que a internet permite que todos prestem o desserviço em opinar sobre tudo com ares de crítica, é preciso saber separar um texto com análise crítica e um simples texto opinativo, quando o autor não tem domínio técnico para construir uma narrativa com elementos teóricos do assunto.

Mas este texto não se trata disso. O enfoque é na questão da pura entrega na arte de interpretação. Atualmente podemos destacar 03 trabalhos individuais que são unânimes: Patrícia Pilar vivendo Constância na novela das 18 Horas, Lado a Lado; Glória Pires que interpreta Roberta no horário das 19 Horas, com Guerra dos Sexos e Carolina Dieckmann, a pobre e sofredora Jéssica, da novela das 21 Horas, Salve Jorge.

Patrícia Pilar voltou ao ar numa cartada arriscada. Após viver a mais inescrupulosa e completa vilã da TV Brasileira - Flora em A Favorita - a atriz surgiu novamente no papel de uma vilã, um risco, pois as comparações seriam inevitáveis. Mas o fato é que a composição de Constância é completamente oposta ao de Flora e, por isso, as comparações ficaram para trás.

Glória Pires que raramente é vista em humor na TV se destaca em Guerra dos Sexos justamente por conseguir compôr uma personagem leve, divertida, mas totalmente humana. Numa produção cheia de equívocos, inclusive de interpretações em que o elenco não sabe se caminha para o caricato ou para o naturalista, a experiente atriz acerta o tom e mostra que domina o humor tanto quanto o drama.

Já Carolina Dieckmann mostra sua versatilidade novamente. A atriz - talentosíssima - é muito criticada, e com razão, porque escorrega quase sempre em equívocos na hora de escolher suas personagens, por vezes repetitivos e que não permitem com que ela se aprofunde em seu trabalho. Como Jéssica, a atriz mostra uma nova faceta, constrói uma personagem sofrida, uma típica mocinha que enfrenta todos os percalços da vida, mas nunca esmorece. E conseguiu a simpatia graças a sua composição aprofundada.

Poderíamos citar outros acertos da atual teledramaturgia brasileira. Marjorie Estiano brilhante - e talvez até melhor do que a própria Pilar - em Lado a Lado. Bianca Bin que vem melhorando bastante na trama das 19 Horas e até a composição minimalista, mas muito bem conduzida de Cláudia Raia em mais uma vilã. Há também alguns bons trabalhos de atores, mas não falaremos deles, pois não se faz necessários.

Algum crítico conseguiria encontrar defeitos no trabalho de interpretação das atrizes citadas? É improvável. Elas realizam um trabalho bem conduzido e maduro, convencendo o telespectador de seus dramas e suas realidades. O trabalho é competente, bem construído e o resultado é um banho de talento e domínio da arte de interpretar. Merecem os parabéns.

Porém, coloque-as lado a lado com Adriana Esteves e sua Carminha em Avenida Brasil. Este texto não quer e não vai comparar trabalhos, pois entende que a novela de João Emanuel Carneiro foi um acontecimento, mas que chegou ao fim no tempo correto. Porém, ao se pensar sobre a entrega na interpretação, torna-se impossível não citar, a partir de agora em qualquer texto, o que Adriana Esteves fez ao compôr a pérfida vilã da última novela que parou o Brasil.

Nenhuma das atrizes citadas errou a mão em seus papéis atuais. Mas qualquer - repito, qualquer - trabalho que vemos na televisão brasileira no momento, não chega aos pés do que fez Adriana Esteves. Ela também mostrou domínio da arte, conhecimento técnico e elementos que todas as atrizes profissionais e com talento e disposição para estudar possuem. Mas Adriana Esteves saiu do lugar-comum, ela foi além, ela não emprestou apenas seu rosto, sua voz e sua postura para Carminha, ela emprestou sua alma, sua própria vida.

A entrega na Arte da Interpretação no nível que Esteves se expôs é tão rara - ou mais - quanto o fenômeno de repercussão que foi Avenida Brasil. Poucas vezes a TV brasileira viu uma atriz - ou mesmo um ator -disposto a se despir de todas as suas características, sejam físicas ou emocionais, e se entregarem de corpo e alma para uma personagem. A interpretação dela feria os seus músculos, era como um açoite para o seu físico, mas a atriz queria ultrapassar a linha do talento e da boa profissional e atingir novos limites na arte de interpretar.

Agora, a grande questão, é que voltamos ao momento em que temos elenco competente na TV brasileira. Temos personagens importantes, marcantes e muito bem defendidos por atores e atrizes, mas a alma, o âmago de uma personagem não temos mais. Adriana Esteves foi um furacão, infelizmente, é raro este tipo de fenômeno acontecer.

4 Quebraram tudo:

Dandara Blue disse...

D.T.,

Não tenho assistido as 3 novelas com frequência, Salve Jorge em especial, não assisto.
Quando vejo Lado a Lado, Patricia Pillar sempre me impressiona. Ela é uma atriz imensa e tem um carisma único e uma qualidade de atuação nata, é mesmo maravilhosa. Concordo que assumiu um risco ao repetir a vilania, mas risco é isso mesmo, é para quem pode,não para quem quer.
Glória Pires, para mim, é uma das maiores atrizes que temos. Com ela não tem mau tempo. Comédia, drama, cinema, TV, ela vai e rouba a cena. Espetacular. Soberba.
Carolina eu acho muito limitada em recursos dramáticos, acho até injusto com o tema do texto que ela esteja nessa tríade. É boazinha, não é ruim, mas nunca uma atriz maiúscula como Patricia ou Glória. Talvez, quem sabe, um dia...
O que mais concordo é que fenômenos como tsunamis e furacões são raros. E Adriana Esteves aconteceu e arrebatou. Está certo que o personagem era incrível, que o texto é muito acima da média, que a direção era primorosa, mas a atriz entregou o que a maioria finge nem ter- a alma. Deu no que deu. Um assombro.
Gostei muito do texto porque você escreve bem e isso me inspira. Parabéns. Esse é o tipo de discussão bem mais relevante do que escrever sobre a resposta de cada twitter que Glória Perez dá. Parabéns de novo.
Dandara

Unknown disse...

acho um equívoco vc falar de ARTE DA ATUAÇÃO!
sou graduando em Artes Cênicas e seu texto não passa de um texto de fã.

Unknown disse...

Bem, acho que esse nível de entrega não depende só da/o atriz/tor. O trabalho da Adriana Esteves não esteve só nas mãos dela. Acho que ela pôde se doar tanto e mergulhar de tal forma no personagem por causa de todo o conjunto da obra; o texto, a direção, a produção... Tudo isso. Penso que fica mais fácil (além de muito mais prazeroso) quando toda a equipe trabalha no mesmo nível. E ao exemplo de quatro das atrizes que você citou (Patrícia Pillar, Glória Pires, Marjorie Estiano e Adriana Esteves), nivelar por baixo deve limitar consideravelmente o trabalho delas. Tenho quase certeza de que se Glória, Patrícia ou Marjorie estivessem em uma condição semelhante à de Adriana, as três teriam um desempenho tal ou, quem sabe, até maior.

Aprecio muito o trabalho das quatro. Muito, mesmo. A Patrícia me conquistou com a Flora (e agora com Constância) de um jeito enorme, assim como Glória Pires me chamou a atenção com Norma. Marjorie tem o meu amor desde Natasha, em Malhação. Só comecei a prestar atenção a Adriana Esteves quando ela interpretou Dalva em Dalva & Herivelto, mas foi mesmo com Carminha que ela entrou para o meu hall de preferidas.

guelito disse...

aqcho que tem aver com o diretor tambem. muitos atores são ate ons,mas,quase nunca são desafiados.se é bonitinho,faz o mocinho,se n é tão bonitinho o malvado.muitas vezes outros parecem que apenas são figuração de luxo.
Essa novela salve jorge é muito repetitiva e tem pouca coisa inédita por exemplo,tanto tecnica,quanto aristicamente em um periodo em que as novelas da globo parecem querer ficar com a estetica de filmes. vide aqualidade da imagem de cinema por exemplo. deveriam ir mais por esse caminho e fugir dos clichés. atrairam ate fãs da tv fechada como aconteceu com avenida brasil.atualmente so adas seis ta melhorzinha

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