quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A qualidade do público que vê TV

Uma das funções básicas da crítica é produzir análise de diferentes produtos nas mais diversas áreas em que se é possível enveredar para este trabalho - e eles são diversos. Especificamente na TV, analisar a programação dos canais de televisão aberta do Brasil não é uma tarefa simples por se tratar de um campo em que a criatividade não é a melhor opção. O que mais se vê são programas reciclados e livremente inspirados em outros produtos, mais antigos ou mesmo atuais. Mas isso é espaço para outra crítica.

Um dos pilares para que qualquer show televisivo funcione é a qualidade do telespectador. Praticamente nenhum crítico tenta enxergar a qualidade do público, quase sempre ele é considerado o "deus" da TV e que todas as suas decisões são onipotentes, pelo simples fato de estarem com posse do controle remoto. De fato, a audiência é onipotente, mas não é imune a erros.

O telespectador mediano brasileiro dá provas disso todos os dias. Num país em que a televisão aberta é, sem qualquer sombra de dúvidas, uma das mais pobres do mundo - por isso a única com uma programação aceitável exerce a liderança disparada na audiência - o público se permite não apenas assistir, mas repercutir e se tornar fieis de programas de gosto duvidoso.

Programas que mantém o nível no ponto mais baixo possível e que exploram a desgraça humana sem qualquer piedade, além de não deixar de exibir sensacionalismo na máxima potência - e esse tipo de programação é maioria nas emissoras nanicas - ficam no ar por anos a fios, com audiência bastante aceitável e, as vezes, conseguindo picos com números que impressionam.

O mesmo público que rejeita propostas inovadoras e de qualidades, como Norma, exibido pela Rede Globo, é aquele que aprova e mantém no ar shows de horrores como esses programas policiais que ultrapassam o limite do ridículo. Se estes programas estão abaixo da crítica, qual seria a medida de auto-análise do telespectador que se dispõe a sintonizar as emissoras no momento em que uma programação assim está no ar?

Programa bom não é o programa que dá audiência. Programa ruim que dá audiência é apenas uma amostragem de que o brasileiro ainda está muito aquém do mínimo necessário para escolher com inteligência sua programação de TV. Falta cultura e, muito mais do que isso, falta disposição do público para adquirir o mínimo de cultura. Se a TV brasileira é ruim, certamente é porque o telespectador brasileiro é ainda pior.

3 Quebraram tudo:

Paulo Jr. disse...

Eu acho que o problema da TV brasileira é exatamente esse, mas é um problema muito mais profundo. É a educação escolar falha e fraca que cria essas pessoas sem capacidade de julgar e preguiçosas de pensar.

Ary disse...

O problema está não no público, mas talvez nos "intelectuais" que se propõem a analisar esse público de forma errônea.

Veja por exemplo esse texto. Está cheio de falhas e contradições. Não leva assim em lugar nenhum e o máximo que consegue é fazer uma defesa oblíqua de sua emissora favorita e bater nas outras, assim consideradas "nanicas".

Então se critica a atitude do telespectador ao mesmo tempo em que se afirma que é esse mesmo telespectador que garante a liderança da emissora que, segundo acredita, tem uma programação aceitável??? Isso não é uma contradição bem óbvia???

O mesmo público que reprova "propostas inovadoras e de qualidades como Norma", não seria o mesmo público que aprovou uma proposta como Cordel Encantado???

Ou será que o público só é bom quando aprova algum programa da Globo e ruim quando reprova???

Que isso??? O buraco é mais embaixo.

O público mediano brasileiro é um público que trabalha 8 horas por dia, e não tem tempo pra ficar pincelando e filtrando programas para descobrir nele uma pretensa qualidade. Olhar o mundo por uma janela e querer que ele aja como a gente acredita ser o certo é muito precário.

Acho errado cobrar do público seus gostos televisivos sem levar em conta como é o seu dia-a-dia.

Por fim, se a tv brasileira é ruim por conta de seu público, convém dizer que temos por aqui uma emissora que é líder de audiência com folga sobre as demais.

Abrá

Gabriel Borba disse...

Bom dia

Fazendo um comentário atrasado, mas achei necessário.

Julgar o público que assiste TV é um terreno muito perigoso.

Posso concordar que programas de péssimo teor tem boas audiências, mas isso não pode ser diretamente relacionado com a suposta "qualidade" do público.

Resta dizer que pessoas de todas as qualidades (cuidado, julgar pessoas é complicado!) assistem programas de todos os tipos.

Dizer o contrário parece segregação.

Um abraço.

Postar um comentário

Twitter Facebook Adicionar aos Favoritos Mais

 
Tecnologia do Blogger | por João Pedro Ferreira