domingo, 7 de agosto de 2011

Insensata e incompreendida Norma

Quando surgiu na tela, apressada, esbaforida e desarrumada, na segunda semana de Insensato Coração, Norma (Glória Pires) nem de longe dava a impressão de ser a grande protagonista da novela das nove. Foram muitos - muitos mesmo - capítulos de construção da linha narrativa da novela e que servia como pano de fundo para a formação de personalidade deteriorada da personagem até que tudo se encaixasse e a história finalmente pudesse avançar.

Bem ou mal, Gilberto Braga e Ricardo Linhares, responsáveis diretos pelo texto do folhetim, construíram gradativamente uma história sólida, cheia de meandros que permitissem não haver buracos em tudo que sua personagem fosse realizar na segunda metade da obra. De tímida, solitária, submissa e sem esperança de um futuro melhor, Norma, em pouco mais de 100 capítulos, se tornou prática, vingativa, estrategista, capaz de tudo - até de matar - para atingir seu objetivo. Começou então o jogo de xadrez.

O público acompanhou passo a passo as jogadas da personagem rumo ao seu único objetivo de vida - vingar-se de Léo (Gabriel Braga Nunes), o homem responsável por abrir uma espécie de caixa de pandora no âmago da enfermeira. Cada ação rumo ao seu objetivo fez o público vibrar e esperar ainda com maior ansiedade o desfecho desse jogo. A vingança de Norma foi como a vingança do público contra o principal vilão da trama das nove, não houve quem não gostasse e quem não justificasse a atitude da anti-heroína.

Mas então, foi aí que Norma fraquejou. Nas últimas semanas de Insensato Coração temos acompanhado Norma e Léo como casal. A personagem demorou até se entregar novamente ao vilão, resistiu o quanto pôde, mas acabou por ceder. E, a partir daí, começaram as críticas. O público torcia por uma vingança completa e não ficou satisfeito com o que se viu na tela. Uma pena.

Norma é, talvez, a personagem com maior verossimilhança dos últimos anos. A construção de sua personalidade foi quase impecável e seus atos presentes são completamente justificáveis. Norma nunca viveu, sempre sobreviveu, sem brilho, sem esperança, sem vida. Foi Léo entrar em sua vida para tudo mudar. O sentimento da personagem por ele não é ódio, não é de justiça, é a sensação de descobrir que ele foi a única pessoa capaz de fazê-la sentir-se viva. Seja enganando-a, seja sendo por ela humilhado ou seja como seu marido, seu homem.

Norma sabe que não há vida para ela sem Léo. Ela sabe que Léo foi todo seu objetivo de vida, o único motivo para que ela continuasse viva e a razão pela qual ela passou a ser enxergada. Norma não é vilã, Norma não é mocinha. Ela é tímida, triste, sem brilho, mas que encontrou a combustão para fugir disso, e ele se chama Léo. A enfermeira sem graça com um Insensato Coração que a faz viver intensamente.

2 Quebraram tudo:

Chrystian Wilson Pereira disse...

Se Insensato Coração traz clichês e obviedades por todos os lados, a trama narrativa que fez de Norma a personagem mais interessante da trama fugiu disso. Belíssima análise daquela que é o maior destaque da novela, também graças à atuação impecável de Glória Pires que se juntou ao talento dos autores em conduzir seu texto. Todos deviam fazer o exercício de rever as primeiras cenas de Norma e comparar com as atuais. Vão se deparar com um trabalho extraordinário de transformação. Será ótimo para aqueles acostumados com interpretações rasas. Palmas para uma das mais competentes atrizes do país.

Paulo Jr. disse...

Concordo com tudo que foi dito no texto. A Norma faz a novela explodir, quando aparece. Simplesmente é uma coisa rara uma personagem tão bem construída aparecer numa novela. Vê-se que também é muito difícil, vide o quanto a novela parecia desconexa em seu início. Mas valeu a pena, porque eu nunca vi uma personagem tão complexa numa trama novelesca, pode até ter existido, mas eu não vi.

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