quarta-feira, 16 de junho de 2010

Globo acerta, mas erra muito em Na Forma da Lei

Estreou nesta terça-feira na Rede Globo, a nova série da emissora e uma das mais aguardadas desta nova leva. Na Forma da Lei, desde que foi anunciada chamou a atenção da crítica e também do público por aparentar um diferencial no modelo do formato brasileiro e porque dava a entender que poderia vir um bom roteiro aliado a uma boa produção.

O episódio piloto mostrou que, de fato, isso acontece. Mas há ressalvas, e sérias ressalvas. Assinada por Antônio Calmon conta a história de Eduardo (Thiago Fragoso) que é covardemente assassinado e o culpado, filho de um político influente, permanece impune. Os cinco amigos do rapaz, que presenciam o homicídio, querem fazer justiça, ainda que tardia. A promotora Ana Beatriz Tavares de Macedo (Ana Paula Arósio), o juiz Célio Rocha (Leonardo Machado), o advogado Edgar Mourão (Henri Castelli), a delegada Gabriela Guerreiro (Luana Piovani) e o jornalista Ademir Rodrigues (Samuel de Assis) se reencontram anos depois e acreditam que ainda podem fazer Maurício (Márcio Garcia) pagar pelo crime que cometeu.

A premissa da série é muito interessante e foi isto que chamou a atenção de todos que voltaram os olhos para o primeiro episódio que registrou os mesmos 18 pontos de média que sua antecessora, Força-Tarefa, vinha registrando. O decorrer do episódio teve como função principal apresentar a história, mostrar os personagens e suas facetas, mas principalmente, dar um ritmo de seriado para a atração, orientando sempre o público que sentia-se diante da tela, como se visse uma série policial americana.

Evidente que isso foi proposital por parte da equipe. Antônio Calmon criou um argumento e transformou-o num roteiro completamente americanizado de se produzir séries. Wolf Maya percebeu isso e deu o enfoque da direção também caminhando para o modelo das séries norte-americanas que fizeram sucesso ao longo da década, principalmente as policiais como CSI e 24 Horas. Todos os elementos do formato estavam ali para quem quisesse ver e nem precisava ser muito atento.

Num momento em que a telenovela demonstra certo desgaste e o telespectador clama por novos modelos de dramaturgia na TV brasileira, a ideia foi muito interessante, porém, ao fim do Pilot (evidente que chamo o episódio assim como brincadeira em alusão a todos os títulos de episódios de estreia nos EUA), a sensação era de que houve exagero. Quem viu Na Forma da Lei não viu uma série brasileira buscando elementos americanos na forma de se fazer televisão, viu uma série brasileira americanizada, o que foi um problema, e grave.

Preocupa também os diálogos. Antônio Calmon soube criar com maestria situações e deu um ritmo invejável a este episódio inicial, porém, em praticamente todas as cenas os diálogos eram cheios de frases clichês e lugares-comuns que incomodam o telespectador mais atento. Falas como: "Não acredito que vou fazer justiça" e "Será que vamos conseguir?" são extremamente dispensáveis num modelo de texto que se propõe em ditar um ritmo forte e situações que prendam a atenção. Esse é um problema que Calmon apresenta em seus últimos trabalhos como todos viram em Três Irmãs, Começar de Novo e O Beijo do Vampiro.

Entre todos os problemas do primeiro episódio, o mais grave em Na Forma da Lei se dá na composição do elenco. Praticamente todos os protagonistas que deveriam segurar a série não mostraram a que veio. Não são apenas interpretações fracas ou equivocadas, são composições de personagens que deixou a impressão de que não haverá melhora ao longo da série. 

Luana Piovani estava absolutamente canastrona em todas as suas cenas, foi entre todos, a que mais deu constrangimento no público. Henri Casteli também canastrão, deu mostra de falta de conhecimento ao compôr seu personagem e ainda tenta encontrar o tom, que certamente não será encontrado. Samuel de Assis foi extremamente discreto e discrição é tudo que não se espera de um protagonista. Leonardo Machado também está mal, lento e com um personagem arrastado que joga os textos como se fossem apenas frases lançadas ao vento. Entre os protagonistas há duas exceções. Márcio Garcia, em um belo papel, e que aparentemente compôs seu personagem muito bem, andando com calma e paciência na tênue linha de seu personagem que caminha entre o criminoso e o sociopata, difícil composição, mas ele deu conta do recado. Ana Paula Arósio, porém, foi a dona do episódio. Firme, fugindo do maniqueísmo que muitos buscam, a atriz mostra maturidade na profissão e acerta em tudo, no olhar, no andar, mas principalmente na empostação vocal.

Em resumo, o episódio piloto de Na Forma da Lei, nos apresentou uma série interessante, com um argumento fascinante e um roteiro acima da média, mas que apresenta tantos problemas e falhas arraigados no cerne da produção que torna difícil acreditar na possibilidade de uma melhora e grande destaque nos próximos episódios. Ao que parece, temos uma grande ideia desperdiçada.

7 Quebraram tudo:

Marlon Kraupp disse...

A abertura mesmo, ficou top, mais ficou com 100% de cara de série americana.

A história da série é excelente, claro que pecou em alguns momentos, mais acho que isso é normal. Primeiro episódio né?

Eu gostei, também achei algumas atuações muito falhas, mas, era de se esperar, visto que todos os atores são de NOVELA, e não tem uma "pegada" pra fazer esse tipo de série, mas claro que com o tempo eles podem melhorar... assim espero !

Unknown disse...

Eu penso exatamente igual à você!

carlosalmeida disse...

Já eu gostei bastante da série, deus uma escoregada no inicio ( foi pro lado da novela ) mais depois voltou como série msm e arrebentou, ritmo, sem enrolar, um texto brilhante, as interpretações todas corretas, ou seja o primeiro episodio foi muito superior ao msm de Força Tarefa.

rodrigorochabc@gmail.com disse...

Muto boa a crítica. Acho que não há desculpa em dizer que é o "primeiro episódio", porque é no "Pilot" que colocam todos elementos pra cativar o público - e a emissora. Ali eles jogam todos os igredientes, fórmulas e mostram o que há de melhor. De qualquer forma, eu gostei muito e acho um grande passo pra nossa teledramaturgia.

Alinne Silva disse...

Eu gostei do primeiro, mas concordo bastante com vc. O único ponto em que vou discordar é do seu pessimismo. Eu espero mesmo que o Henri e a Luana encontrem o tom dos personagens. Acho que a série peca na escolha do elenco. O Henri passou o episódio inteiro com aquela cara de "Henri Castelli" e não faz nada diferente.
Mas, taí, vou continuar assistindo e esperando que as coisas melhorem.

Mauricio disse...

Eu também gostei muito dessa série, temos que entender que a globo vem tentando desenvolver suas próprias séries e isso é muito bom, pois ela esta dando emprego para muita gente em cada uma dessa séries e não tenham dúvida de que ela vai acabar acertando a "mão" - Já temos Força Tarefa que é muito boa - podem ter certeza que a continuar assim dentro de uns três ou quatro anos ela vai estar dominando tambem essa área enquanto as demais estarão comprando enlatados lá fora...

Caroline® disse...

Nossa, parece que você leu minha mente! Não poderia concordar mais. Também percebi o excesso de "americanismos" no roteiro e péssima escalação de elenco. Luana Piovani = vergonha alheia. Pior do que qualquer menina de colégio em peça de fim de ano. Só de lembrar de Hermila Guedes (uma verdadeira policial em Força-Tarefa) e de Malu Mader (a inesquecível Justiceira), foi constrangedor. Os mais adequados (ainda não considero bons) foram mesmo Márcio e Arósio, mas ela deu umas escorregadas. Henri Castelli não tem a menor graça. Você só esqueceu de mencionar Luiz Mello, que arrasou muito! O argumento da série é bom, só falta um roteiro melhor e um elenco que seja capaz. Imagina o estrago que não fariam um Wagner Moura ou um Selton Melo, e uma Camila Pitanga com esses papeis...

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