sábado, 27 de março de 2010

Desabafo de um Jornalista desiludido

Se bem me lembro, desde os 10 anos optei por ser jornalista. Nunca houve em minha mente uma reflexão aprofundada sobre as possibilidades que poderiam se abrir diante de mim em outras profissões. Apesar da resistência de minha família, em nenhum momento cogitei seguir outro caminho que não este.

O único momento em que tive dúvidas de que ser jornalista era o melhor para mim ocorreu já na faculdade. A cobertura jornalística do caso Richthofen foi uma coisas mais nojentas que ocorreu na história recente do jornalismo. A maneira como a mídia atacou o garoto Andreas Richthofen, garantindo que ele era cúmplice da irmã, enquanto ainda haviam investigações, foi de tal maneira absurda que poderia ter destruído o resto de sobrevivência que o garoto teria.

Naquele momento eu questionei se era aquilo que eu queria para mim. Em conversa com professores, fui convencido de que nem toda a mídia é assim, de que para ser um profissional do jornalismo, não é necessário ser carniceiro, não é preciso se ocupar de desgraças alheias para ser profissional.

Agora, mais de 07 anos depois de formado, novamente me deparo com um caso parecido. Confesso que fiquei surpreso com a cobertura moderada que as emissoras abertas do país vinham fazendo ao longo da semana do caso Nardoni, cheguei a comentar isso com amigos. Mas o desfecho do julgamento, a noite de sexta-feira quando o Júri votou pela condenação do casal, foi um dos episódios mais lastimáveis da história da TV brasileira.

A BAND apresentou um Toda Sexta especial com Adriane Galisteu e Marcelo Resende comentando o caso. Marcelo Resende que, aliás, certamente não se lembra dos tempos de bom profissional. O sensacionalismo em cima da morte de uma menina foi de dar náuseas a qualquer bom telespectador.

Quem foi merecedora de elogios ao longo da semana, jogou tudo pelo ralo na sexta. A Rede Record, especialistas em coberturas sensacionalistas, desta vez ultrapassou todos os limites. Foram 07 links e 02 helicópteros sobrevoando o Fórum de Santana enquanto aguardava o veredito do casal Nardoni. Todas as "informações em primeira mão" ditas daquele jeito nojento de se fazer jornalismo, não medindo esforços e não respeitando a dor dos envolvidos. Deplorável.

A Rede Globo, como sempre, preferiu perder a liderança de audiência no horário a descer o nível nesta cobertura medonha e neste circo que foi feito em torno de um julgamento que não dizia respeito a sociedade. O julgamento não era de pessoas que fizeram qualquer transgressão contra a sociedade, portanto, dizia respeito apenas aos envolvidos e a justiça. A emissora carioca apenas informou quando saiu o veredito, exatamente como deve ser feito.

Num momento como este é que dá vergonha de ser jornalista. É assistindo a cobertura sensacionalista, marginal, anti-profissional e que não respeita a dor alheia é que se perde o ânimo de ter orgulho de sua profissão. E mais, assistir ao patético espetáculo do "público" do lado de fora comemorando a condenação, nos faz sentir vergonha de ser brasileiro. Culpados ou inocentes, tanto faz, o momento não exigia comemoração, afinal, estamos falando de uma menina que perdeu a vida aos 05 anos de idade. Isso é motivo para fogos de artifício? É motivos para a mídia se aproveitar e ganhar uns pontinhos de audiência. Lastimável país este em que vivemos.


6 Quebraram tudo:

Rogercg disse...

Concordo 110% contigo.

Carlos disse...

concordo em genero, numero e grau!

Daivison Tavares disse...

O drama alheio vendido no mercado livre do jornalismo.Os problemas de famílias brasileiras como jogada de marketing para uma busca exagerada de boa colocação na audiência.

Situação lamentável.

Francisco othon disse...

após caso Isabela , vem Eloa,Richthofen, bbb,doenças até arruda.

é
ffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu.

Maria Terezinha(TE) disse...

Tinha gente no twitter reclamando da Globo e SBT, por estarem passando filme. Achei correta a atitude , pra que participar do circo , só por audiência.

Gabriel Borba disse...

Daniel e amigos
Impossível não concordar com o cerne do post, uma vez que a cobertura do caso Isabella foi, desde o fato em si, há dois anos, um espetáculo do mau gosto em praticamente todas as emissoras de TV - com direito a comentários estapafúrdios, entrevistas ridículas e tudo o mais.
O comentário que fizeste sobre o Marcelo Resende é perfeito. Já há muito tempo ele esqueceu...
Quanto à cobertura dispensada pela Rede Globo eu iria mais além: não deveriam sequer ter colocado o trecho da sentença durante o intervalo do filme. Não se tratava de nada "fantástico" para tanto. Era o fim de um julgamento. Ponto. Dá a notícia do Jornal da Globo que já está muito bem colocado.
A comemoração das pessoas nas ruas foi algo deplorável, mas humano, e há de se ter isso em conta quando se faz uma avaliação. Todos nós temos filhos, sobrinhos ou conhecidos com a idade da menina, e o crime atingia a todos de alguma maneira. A atitude foi equivocada, mas com alguma explicação pelo menos.
Agora não posso deixar de comentar o título e o preâmbulo que fizeste, Daniel. Achei totalmente dispensável comentares sobre tua vida, seja pessoal ou profissional. Desculpe a sinceridade, mas se casos assim fazem com que tu repenses tuas posturas e objetivos é porque eles não estão assim tão enraizados como tu possas pensar.
É claro que casos como os que citaste são motivos bons para que percas motivação, mas não para um dramalhão mexicano.
Deixa as lamúrias para caras como o Pedro Simon por exemplo, que é senador há quase 40 anos e político desde que deixou as fraldas... se com 26 anos tu pensas assim teu caminho não será ladrilhado como todos desejam, e qualquer pedrinha que encontres será um obstáculo intransponível. Espero que entenda isso como crítica construtiva.
Um abraço.

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