quarta-feira, 24 de abril de 2013

Roteiro é o ponto de alto de Flor do Caribe

Para uma novela ganhar ares épicos ou ser considerada entre as melhores de uma época - ou mesmo de todos os tempos - é preciso reunir uma série de elementos que, quando funcionam em uníssono transformam a obra em algo que vai além da própria TV. Mas todos esses elementos funcionarem ao mesmo tempo é algo muito raro de se ver. Quando isso não ocorre, dependendo dos elementos que funcionam, ficamos diante de um bom produto, mas que não explora sua potencialidade.

É o caso de Flor do Caribe. Novela das 18 Horas que traz a assinatura do experiente Walter Negrão e surpreende o telespectador com um texto prático, ágil, com muitas viradas e muitas situações contundentes. Cenas fortes, muita ação e mudanças de rumo vem marcando a novela nestes primeiros meses de exibição e já a coloca como uma obra marcante do autor que resolveu inovar e sair do conforto de seu estilo - Negrão é o autor de Araguaia, novela morna, tranquila e lenta.

Segundo o próprio autor, seu estilo foi inspirado no trabalho de João Emanuel Carneiro - autor de Avenida Brasil - que, embora mais novo, vem se revelando um grande novelista. E não é apenas no discurso, pois a atual trama das seis se mostra realmente envolvente, com roteiro denso e muitas situações contundentes, marga registrada do mais jovem autor do horário nobre da TV brasileira.

Parece óbvio que este é dos melhores, senão o melhor trabalho de Negrão. O autor vem se mostrando versátil e capaz de criar um roteiro intrincado e bastante interessante, mantendo a coerência. O texto de capítulo após capítulo segue esta regra e se apresenta de forma interessante, sem encheção de linguiça. Os diálogos seguem a mesma linha e estão cada vez melhores, contribuindo para boa parte da tensão que toma conta dos capítulos.

Mesmo com roteiro e texto acertados com rara felicidade não se pode dizer que Flor do Caribe esteja, até o momento, na lista de melhores novelas de todos os tempos do horário. Ainda que Jayme Monjardim mais acerte que erre na direção - embora tenha cometido alguns equívocos, como o tom amarelado das cenas que funcionava melhor em A Vida da Gente - ele não atrapalha e dá o ritmo necessário para as cenas, conforme o texto pede.

O grande senão do folhetim está por conta da irregularidade de seu elenco. Felizmente Grazi Massafera se encontrou, após um começo complicado, e tomou conta de sua protagonista, transformando-se no grande destaque da novela até o momento. Mas, do núcleo principal, apenas ela funciona. Igor Riclki tem em mãos um vilão extremamente complexo e que exige muita envergadura de seu intérprete e o novato claramente não está dando conta. Com sua interpretação limitada, o ator acaba nivelando por baixo cenas que poderiam ser épicas nas mãos de um profissional mais experiente. Henri Castelli, mesmo com tantos anos de bagagem, também não contribui. Ele não consegue acertar o tom de seu protagonista, principalmente nas cenas de amor e também atrapalha o ritmo da história.

A ironia de um elenco irregular e que atrapalha uma obra com roteiro e textos tão bons se dá justamente por ter em seu cast dois atores que estão roubando a cena. Sérgio Mamberti e Juca de Oliveira, embora coadjuvantes, vem dando show em todas as cenas em que aparecem, juntos ou separados, e dão um charme todo especial para a construção dessa história paralela sobre o nazismo. Outros coadjuvantes também vem mais errando que acertando, uma mostra da irregularidade de um elenco mal escolhido.

Flor do Caribe é um grande trabalho de Walter Negrão. Caminhando nesse ritmo certamente será lembrada de forma carinhosa pelo público, mas acaba sendo impedida de fazer parte da memória afetiva com cenas épicas justamente pela irregularidade de seu elenco. A novela é interessante, bem desenhada, mas poderia ser melhor nas mãos de outros atores e atrizes.

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