Estreou na noite da última terça-feira, 17, na Rede Globo mais uma minissérie. Substituindo a excelente Dercy de Verdade e mantendo a grade de Janeiro da emissora, O Brado Retumbante entrou em cena com texto de Euclydes Marinho e núcleo de Ricardo Waddington, a produção chamou a atenção já nas chamadas pela coragem de tratar de um assunto recorrente, mas delicado, a corrupção do sistema político nacional.
A premissa já é suficientemente boa para chamar a atenção do telespectador, mas o primeiro episódio costurou tão bem toda a situação para dar o pontapé à história que, quem assistiu não conseguiu mais abandonar a TV por um minuto sequer. A podridão do sistema político que, tentando se safar, levou Paulo Ventura (Domingos Montagner) à presidência da Câmara foi o início de tudo e, um simples acidente com o presidente e o vice levou um dos poucos políticos da história a se tornar presidente da República.
Um dos pontos altos da série nesta estreia foi o texto Euclydes não quis produzir uma novela curta, ao contrário, respeitando cada formato, o autor se esvaziou da linguagem dos folhetins e soube construir situações e diálogos muitos mais densos e menos maniqueístas, exatamente como uma produção assim pede. Ao criar um político incorruptível, o autor correu o risco de criar um herói nacional no pior sentido da palavra, mas ele soube dar características humanas a Paulo Ventura, o que foi, talvez, o maior acerto da produção até o momento. Além disso, o texto da minissérie mostrou estar afiado e os diálogos não vieram cheios de frases prontas que todo brasileiro é louco para ouvir, ao contrário, as discussões sobre política e corrupção atingiram um patamar inesperado e muito mais aprofundado.
Outro ponto alto foi a direção. A sobriedade de Ricardo Waddington esteve o tempo todo presente nas decisões de direção e isso ficou claro no vídeo. A opção pela imagem amarela foi polêmica e arriscada, mas diante da sutileza do texto e do perfil do telespectador brasileiro, foi como uma espécie de mensagem um pouco mais óbvia sobre o tema, ou seja, um acerto. Os takes e os cenários mostraram que a direção se preocupou em cada detalhe para dar um resultado positivo e bem costurado a fim de que nada soasse falso no vídeo e conseguiu.
Se fosse possível nomear um problema para esta estreia seria o elenco. Longe de estar ruim, boa parte do casting pareceu insegura e ainda imatura neste primeiro episódio. Sem conseguir defender personagens mais profundos, algumas falas pareciam realmente interpretadas e, para uma produção assim, isso é um problema. Domingos Montagner começou um tanto quanto perdido, suas primeiras cenas foram bem abaixo do que vimos o ator fazer em outras produções, mas nas cenas mais fortes ele segurou bem o papel e deve melhorar nos próximos episódios. Com um José Wilker debochado e prometendo novo show, o grande destaque da noite, contudo, foi Maria Fernanda Cândido. Mesmo longe da TV, a atriz demonstrou uma maturidade impressionante e construiu uma personagem que tinha tudo para ser a mais apagada da trama e tornou-se, de longe, a mais carismática.
O Brado Retumbante mostrou-se uma produção extremamente promissora nesta estreia e tem uma excelente premissa em mãos. A possibilidade de conseguir transformar todos os elementos em uma grande minissérie é grande e, a tirar pela estreia, estaremos bem servidos nas próximas duas semanas.
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