terça-feira, 23 de outubro de 2012

Tema bom, desenvolvimento ruim. Esta é Salve Jorge

Quem é leitor costumaz deste espaço sabe que, após toda estreia de uma nova novela, a primeira frase é quase sempre a mesma. Sendo clichê ou não, vamos a ela: analisar uma obra de 179 capítulos apenas por sua estreia é covardia e estupidez, mas é possível dar uma pincelada sobre quais são as expectativas do que está por vir. Com isso, pode-se afirmar que Glória Perez fez o que faz de melhor: pesquisou. Num primeiro olhar fica claro que a obra da autora com direção de Marcos Schechtman vai dar o que falar justamente pelo tema proposto. 

Ao escolher o tema tráfico de mulheres, a autora mostrou que conhece bem o público de TV. É fácil afirmar que, uma hora ou outra, Salve Jorge vai cair na boca do povo e virar tema de discussões acaloradas, seja na TV ou fora dela. O tema é forte, aguça a curiosidade de quem vê e, sem dúvida nenhuma, repercute bastante. O chamariz para a audiência está aí, por isso, parece óbvio dizer que a aposta é para mais um sucesso na carreira da autora de obras consagradoras como O Clone e América.

Contudo, nem só de tema vive uma obra. O primeiro olhar sob o que o texto propôs dentro do tema mostrou um desenvolvimento cansativo. Antigamente, o principal objetivo do primeiro capítulo de uma telenovela era o de apresentar para o público os personagens. Este artifício não funciona mais. Glória seguiu este caminho e mostrou-se equivocada. Sem ação, sem uma linha bem costurada, mas com frequentes acontecimentos que prendam a atenção, o público se dispersa e perde o interesse. Foi o que aconteceu.

E olha que o roteiro acertou em cheio ao colocar a primeira sequência no melhor estilo Lost de Flash Forward. Morena (Nanda Costa) sendo leiloada, já como prostituta, no futuro ao tempo que se passa a novela. É óbvio que a cena lembrou muito a estratégia de estreia de Revenge (que também rendeu comparações com a novela que antecedeu a atual, Avenida Brasil). Uma cena de impacto no futuro para prender o público até que presente e futuro se unam e e se expliquem. Esta estratégia foi muito boa, mas só ela em todo capítulo.

Os dias presentes de Salve Jorge foram maçantes, chatos e cansativos. A apresentação das personagens serviu apenas para causar tédio e nenhum núcleo entre os apresentados conseguiu chamar a atenção. Giovana Antonelli em seu papel de delegada, aliás, chamou mais a atenção por não deixar claro se tem um papel cômico ou dramático nas mãos e isso incomodou bastante.

O elenco, inclusive, mostrou-se bastante verde - o que quase sempre é natural numa estreia. Os protagonistas já se conheceram no primeiro capítulo, mas não apresentaram qualquer química. Aliás, a cena final do capítulo, o encontro do casal foi patética. O texto foi por um caminho, Nanda Costa foi por outro e Rodrigo Lombardi por outro. Uma sucessão de equívocos. Nanda, aliás, terá que se esforçar muito para não ser metralhada pela crítica, pois esteve errada em quase todas as cenas. 

Do elenco, só Cláudia Raia chamou a atenção. A atriz, com uma vilã nas mãos, em poucas cenas já mostrou que tem uma personagem muito mais emblemática que a da maioria do elenco. É preciso desenvolvê-la, é bem verdade, mas seu texto ajudou no primeiro capítulo e a atriz demonstrou estar bem familiarizada com sua personagem.

A direção também chamou a atenção. As cenas de invasão do Complexo do Alemão foram bem estruturadas e sem violência gratuita, o que é sempre bom na dramaturgia. O que pôde ser observado, contudo é que, diferentemente de América, quando assumiu a direção no meio da novela e de Caminho das Índias, Marcos não deu o tom colorido para esta estreia. Diferentemente das novelas anteriores, esta obra tem temas muito mais fortes e uma trama toda colorida destoaria. Ponto para ele por ter tido essa sensibilidade.

Deixando a viuvez de lado pelo fim de Avenida Brasil. Parece fácil cravar que estamos diante de um novo sucesso. Salve Jorge certamente vai agradar ao público e parece destinada a cair na boca do povo. Porém, a produção precisa caprichar um pouco mais, se quiser também cair na boca da crítica. Os erros da autora em obras passadas já puderam ser observados novamente e o elenco precisa dominar melhor seus personagens. Caso contrário, estaremos diante de uma novela que todos assistem pelo tema, apesar da condução toda equivocada. O que seria um desperdício e tanto.

5 Quebraram tudo:

tvo disse...

Primeira Vila de Claudia Raia?E Torre de Babel e Sete Pecados?

Feelings disse...

A forma como o capitão pegou a morena hoje foi patética.

Unknown disse...

acho engraçado, teve criticos q elogiaram nanda costa , e outros detonaram claudia raia. muito dificil isso de critica

Leonardo Medeiros Borges disse...

Impossível não perceber em seus textos a sua clara preferência por essas e outras atrizes, sempre atrizes. Se é q vc me entende.

Leonardo Medeiros Borges disse...

Também nunca me animou a ideia dessa atriz como protagonista, mas eu tenho que admitir que ela foi bem sim. Cláudia Raia até agora não mostrou a que veio, tbm é cedo para isso, gosto muito dela, mas tenho de ser imparcial. Sempre leio os seus textos, mas sempre percebi uma parcialidade nos seus comentários, o que é triste, porque me identifico com suas opiniões, mas elas me soam mais como gosto do que realmente um crítico imparcial postaria.

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