segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A.Avbr. D.Avbr. na Teledramaturgia Nacional

Nenhuma obra é perfeita. Toda obra é perfeita. Estas duas afirmações, por si só, são paradoxais, mas, ao mesmo tempo, complementares se vista numa análise mais simplista. Para um crítico, nenhuma obra consegue ser completamente perfeita, sempre é possível encontrar um elemento que poderia ter sido melhor explorado. Para um fã, toda obra é perfeita e todas as falhas apontadas são justificáveis na cabeça e, principalmente, no coração deste fã.

Fui um grande - senão o maior - fã de Avenida Brasil. A novela de João Emanuel Carneiro - mais jovem autor do principal horário das telenovelas brasileiras - com direção estonteante de Ricardo Waddington, Amora Mautner e José Luiz Villamarim tornou-se, disparada, a minha predileta entre todas as que já assisti. Posto isso, é preciso analisar de uma forma menos subjetiva o resultado que este folhetim levou para a emissora, para o público e para a própria teledramaturgia.

A trama que contou a história de sede de justiça de Nina (brilhantemente interpretada por Débora Falabella) contra a mulher responsável por destruir sua vida ainda na infância, Carminha (um monstro chamado Adriana Esteves) tornou-se um fenômeno de repercussão por todo o país e angariou milhões de fãs, transformando-se, durante sua exibição, no principal tema de conversas por todo o Brasil. Onde houvesse mais de uma pessoa reunida por alguns minutos, certamente em algum momento, essas pessoas falariam da novela.

Os números de audiência comprovam este fenômeno. Com 39 pontos de média, segundo dados do Ibope para a Grande-SP, o folhetim empatou com a antecessora Fina Estampa e tornou-se a maior audiência do horário desde A Favorita, novela do mesmo autor. No Painel Nacional de Televisão - que mede a audiência em todo o Brasil - os números foram ainda melhores e Avenida Brasil tem a melhor audiência desde Paraíso Tropical.

Do ponto de vista técnico, a novela de João Emanuel Carneiro foi arrebatadora. Poucos erros puderam ser observados - alguns de continuidade e que sequer prejudicaram a obra - outros, mais subjetivos, dentro do andamento do roteiro - o caso do pen drive é um marco, pois deve gerar uma discussão eterna sobre a questão de haver ou não furo. Como este texto foi iniciado, nenhuma obra é perfeita, sempre é possível encontrar pequenos problemas.

Mas, entre defeitos e qualidades, a história que parou o Brasil e gerou uma repercussão gigante, teve muito mais qualidades. A começar pelo roteiro devastador de João Emanuel que não economizou e, novamente, produziu um texto brilhante. O autor mostrou que já é um dos melhores autores deste país e deve entrar para a História dos grandes nomes da teledramaturgia. Foi sua melhor obra por ter sido uma novela muito mais orgânica, melhor distribuída e com estrutura mais equilibrada.

A direção casou tão perfeitamente com o texto como poucas vezes - eu pessoalmente nunca - se viu. Os três diretores mostraram uma competência que, em alguns momentos assustou. Praticamente todos os capítulos a direção saltava aos olhos, mas em dois momentos principais isso ficou evidente: na sequência em que Carminha enterra Nina viva e na sequência de assassinato de Max ( Marcello Novaes) o texto não foi o maior destaque, as atuações idem. O destaque foi a incrível competência dos diretores.

E o que dizer do elenco? Raramente se vê um casamento tão feliz entre elenco e texto. Improvável conseguir citar um destaque negativo no campo das atuações. Praticamente todos foram brilhantes, exceção de alguns poucos que foram "apenas" corretos. Seria injusto citar nomes, mas mais injusto ainda não citá-los, pois houve quem merecesse, dentro do contexto de brilho geral, este destaque. Murilo Benício que mostrou ser um dos melhores atores do país atualmente em outro trabalho impecável. José de Abreu e Vera Holtz numa composição tão detalhada de seus personagens coadjuvantes que saltava aos olhos do público a qualidade dramática de ambos. Débora Falabella que, no início, muitos questionaram se conseguiria compôr uma protagonista tão densa e, hoje, merece só elogios e palmas por ter delineado das melhores mocinhas que este país já viu. E Adriana Esteves. Um monstro sagrado numa das atuações mais selvagens que este país já viu.

Avenida Brasil saiu de cena como nunca se viu. A novela que parou o Brasil conseguiu uma repercussão assustadora, inclusive a Rede Globo, tão tradicional, se rendeu a este sucesso e, desde sexta-feira, praticamente toda sua programação foi dedicada ao folhetim, fato raro - senão inédito - na história da maior emissora do Brasil. Por isso, não é exagero dizer que, em pleno 2012, momento em que a TV perde espaço para outras mídias, a Teledramaturgia Nacional virou A.Avbr. e D.Avbr. - Antes e Depois de Avenida Brasil.

PS: abaixo, alguns textos sobre o último capítulo da trama que chamaram a atenção deste blog.

Teoria de que Jorginho matou Max - blog De Olho nos Detalhes

O que vi da Vida - Parte 1    O que vi da Vida - Parte 2 (sobre Avenida Brasil) - Blog Além dos 140 Caracteres


Um blog inteiro dedicado a Avenida Brasil - blog Cativeiro da Carmimha

5 Quebraram tudo:

Paulo Jr. disse...

Muito bacana o seu texto, e muito pertinente.

Quanto à história do pen drive, eu acredito que não tenha sido um furo. Furo pra mim é outra coisa. Foi no máximo uma forçação de barra. Quando envolve a inteligência e/ou impulsividade do personagem, não tem como ser objetivo e dizer: não seria desse jeito.

Rodrigo Rocha disse...

Vamos lá...
Toda história deve ter o advogado do diabo. Sempre é aquela pessoa mal vista pelos outros e, geralmente, chamada de ignorante ou acusada de não saber interpretar a história.
Avenida Brasil foi boa. Acima da média. Ainda mais se comparando com suas antecessoras (que foram de morosas à constrangedoras). E talvez por isso se deva o primeiro motivo do sucesso de Avenida Brasil: o histórico. Acostumados à humildade humilhante de Griselda e às devassidões arrogantes de Teresa Cristina, o público veio abaixo quando surgiu uma história com mais de um palmo de profundidade. Ponto pro JEC.
Entretanto, não concordo quando dizem "mas é uma obra de ficção". Sim, mas como você mesmo diz, deve transmitir verossimilhança. E desculpe, mas isso é o que menos JEC imprimiu em 90% dos núcleos.
Me irrita também o fato de uma novela se levar a sério, mas deixar tantos furos pela história. E o Pendrive é só uma delas.
Quem sai de um banco com 1 milhão em uma mochilinha, pelas ruas do Rio de Janeiro?
Qual o aditivo do combustível da moto de Nina que sempre a fazia chegar nos locais antes de todos, mesmo que saísse atrasada?
Alias, que coerência é essa de comportamento, onde não se tem coragem de entregar provas que salvariam uma família por causa do Tufão, mas a fazem entrar em um cativeiro crivado de bandidos para salvar uma pessoa, totalmente desarmada e desprotegida?
Coerência. Essa é a palavra da vez. E eu prezo muito isso. Para mim personagens são personagens. Mas, para transmitirem verdade, devem ser coerentes. Claro, em uma obra que se leva a sério. E depois daquela fatídica entrevista à Veja, é CLARO que JEC se leva muito a sério (as suas novelas também).
Talvez seja por isso que fico desconcertado com o amor com que Av. Brasil foi encarada pelo povo: um pouquinho mais de inteligência e o povo aplaude de pé. Ovaciona. O obras como Máscaras, que te instigavam a pensar, simplesmente são jogadas à escanteio.
Av. Brasil não foi uma novela ruim. Muito pelo contrário. Foi entretenimento puro e saudável. Só que pra uma obra que se leva a sério (e pra um autor que se coloca em um pedestal), devia ser mais pensada, analisada e calculada.
Ele sabe escrever. Mas parece não ter senso crítico para saber quando e onde sua história deve voltar aos eixos e respeitar aquilo que construiu.
Acho que estamos vendo nascer o futuro Aguinaldo Silva... Com um pouco mais de seriedade em seus folhetins, só isso...

Sérgio Santos disse...

Daniel, excelente texto! Concordo com absolutamente tudo e assino embaixo! Também te agradeço por ter indicado minha teoria sobre a morte de Max! Abraços!

guelito disse...

nossa! comentários inspirados! eessa novela não foi perfeita.acho que faltou mais emoção no ultimo capitulo(diziam ia ser sangrento) mas,no geral,foi muito acima da media. há qto tempo um progrma n mobilizava todos assim. eas cenas q pareciam cinema. nossa na morte do max nina acorda e abre os olhos junto com a camera! até hoje só tinha visto isso em filme. acho que o problema éo tempo de duração de uma novela ea necessidade de manter tudo em movimento e ao mesmo tempo coerente. mas pelo menos foi menos teatral e monotona que as outras,com certeza.

Chrystian Wilson Pereira disse...

Daniel, acompanho o seu blog desde 2009 e, como você, sou fã do João Emanuel Carneiro. Não necessitamos dizer mais uma vez que ele é o grande nome da teledramaturgia atual. "Avenida Brasil" foi memorável, uma novela excelente. Mas na minha opinião, não chegou a ser genial como "A Favorita". Sei que isso não é uma análise, muito menos uma avaliação técnica: parte do meu julgamento, como fã, daquela obra que tanto me marcou. E por mais que "Avenida" tenha sido densa e muito bem construída, para mim não superou o brilhantismo (e a ousadia!) da história de ódio e amor entre Flora e Donatella. Você comentou várias vezes que "A Favorita" era, em sua opinião, a melhor novela da história da teledramaturgia brasileira. "Avenida Brasil" teria ocupado este lugar agora, não é? Será que acabamos de acompanhar a melhor novela já produzida pela Rede Globo? Uma provocação que te lanço! Só para constar que, das obras do JEC, a que eu acho mais sensacional é "A Cura", mas como o assunto aqui é telenovela, não cabe fazer comentários sobre uma série. No mais, parabéns pelos comentários no blog, são muito coerentes e bem-escritos, além de opinativos e com argumentos bastante consistentes, o que é algo louvável. Espero mais comentários seus!

Postar um comentário

Twitter Facebook Adicionar aos Favoritos Mais

 
Tecnologia do Blogger | por João Pedro Ferreira