quarta-feira, 2 de maio de 2012

Máscaras peca por não conhecer seu público

Com quase 20 capítulo exibidos, já é possível fazer uma análise mais apurada da nova novela das 22 horas da Rede Record. Tendo como marca principal a assinatura de um dos mestres da teledramaturgia no Brasil, Lauro César Muniz, Máscaras estreou cercada por polêmicas e mistérios. Nesta mais de uma dezena de capítulos exibidos, contudo, não disse a que veio.

Quando Lauro César afirmou em praticamente todas as entrevistas antes da estreia de sua obra que estava cansado da mesmice da teledramaturgia nacional e que ele iria inovar, fazer algo diferente de tudo que se viu, certamente não estava brincando. Poucas vezes na TV brasileira se viu algo tão ousado para um início de telenovela e isso é um grande mérito do autor e também de toda a equipe que assumiu os riscos, e eles não eram poucos.

Contudo, ousadia é apenas uma qualidade das muitas que são necessárias para se fazer um produto desta dimensão. Lauro César também disse que Máscaras é sua obra mais autoral e, talvez, seja este o grande problema. Ao dar de ombros para o público mediano da telenovela brasileira e apresentar um produto de tamanha complexidade, o autor ignora o receptor, pensa apenas em si - o transmissor - e aí, o caldo entorna.

Um dos conceitos mais simples de semiótica é justamente este. O transmissor se fazer entender pelo receptor, sem isso não há comunicação. Este é o mal que assola Máscaras. É exigir demais que a média do telespectador brasileiro - que trabalha 8 horas por dia, enfrenta mais 2, 3 horas de trânsito, tem conta para pagar, filhos para criar - entenda algo tão bem elaborado e que não dá qualquer sinal de se querer entender.

É impossível dizer que a novela seja ruim. Muito longe disso, a qualidade do texto é gritante - pena que a direção não acompanhe este trabalho e faça uma composição bem aquém do esperado - porém, isso não é suficiente. Em termos mais simples, seria como exigir que um aluno mediano da 5ª série do Ensino Fundamental seja obrigado a ler Machado de Assis e compreender. 

Novela não é Literatura. Televisão não é escola. Se há ruídos de comunicação, se há complexidade demais, o telespectador faz o óbvio, troca de canal. E é o que vem acontecendo e a tendência é piorar caso algo não aconteça para mudar os rumos da narrativa do folhetim. Por mais que haja um elenco esforçado, e há - com grande destaque para Paloma Duarte, de novo roubando a cena - a linguagem da novela soa como um ruído imperceptível à compreensão da maioria do público.

Lauro César Muniz vem fazendo uma ótima trama, mas não é uma ótima novela. Porque, um dos papéis da novela, é o de entreter o telespectador. Evidente que o formato é cultural, é artístico e deve enriquecer quem assiste. Mas as escolas são provas de que não se adquire cultura artística de forma obrigatória e, na televisão principalmente, se não se consegue falar para que o público entenda, ele foge e a culpa é de quem fala, não de quem ouve. A fuga do telespectador é culpa de Máscaras que fala, fala, mas ninguém entende.

3 Quebraram tudo:

David disse...

Isto me lembra obras "ótimas" como "A Pedra do Reino" que queria obrigar o público a ser intelectual...

Sérgio Santos disse...

Parabéns pelo texto, Daniel! Vc resumiu tudo! Simples assim.

Unknown disse...

Assino embaixo.

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