Em outubro de 1985, a Rede Globo colocou no ar, às 18h, a novela De Quina Pra Lua. A principal tarefa da nova produção era manter os altos índices de audiência que A Gata Comeu, atração anterior do horário, havia conquistado. O enredo, um argumento de Benedito Ruy Barbosa desenvolvido por Alcides Nogueira, em sua estréia como autor titular, contava a história de José João Batista (Milton Moraes), um funcionário exemplar, extremamente honesto e que acaba perdendo seu emprego, sendo substituído por um computador.
Desesperado e sem perspectivas de conseguir outro emprego por causa da idade, José João, pela primeira vez na vida, joga na loteria. O bilhete é premiado, mas numa armadilha do destino, José João morre e acaba sendo enterrado junto com o bilhete, que está em um dos bolsos de seu terno. Quando a família descobre, desenterram o corpo para recuperar o prêmio, mas ladrões de sepultura roubaram o terno. Começa então uma caçada ao bilhete premiado, encabeçado pela viúva de José João, Angelina (Eva Wilma), e pelo professor Dante Cagliostro (Agildo Ribeiro), amigo de José e apaixonado por Angelina. Para dar uma ajuda à viúva, o falecido volta do além, acompanhado pelo atrapalhado anjo Cróvis (José Dumont).
O ponto de partida da novela pressupunha uma grande comédia de erros, mas alguns deslizes de produção, direção, escalação de elenco e uma certa inconsistência no texto, comprometeram o resultado final. Mas De Quina Pra Lua também tinha seus pontos positivos. Mesmo com a já citada escalação equivocada, não há como negar que um dos principais acertos foi Elizabeth Savalla vivendo a manicure Mariazinha. A atriz, conhecida pelas suas mocinhas sofredoras, encarnou com perfeição a suburbana e barraqueira personagem, sempre apaixonada pelo professor Cagliostro. Outro ponto alto foi a presença do atrapalhado anjo, que garantia, junto com José João, boas rizadas.
Do lado romântico, o autor conduziu muito bem a história entre Marquinhos (Marco Antônio Pâmio), o filho do contrabandista Silva (Hugo Carvana), e Maria de Fátima (Isabela Garcia), filha de José João e Angelina.
Quase ao final, o assassinato de Souza (Odilon Wagner), principal rival de Silva, abriu espaço para o “quem matou?” dentro da trama, elevando um pouco mais o interesse do público pela novela. Em determinado ponto da história, Alcides Nogueira passou a contar com a colaboração do experiente Walter Negrão, com quem inclusive havia iniciado sua carreira como colaborador um ano antes, na novela Livre Para Voar.
Mesmo diante dos percalços, De Quina Pra Lua costuma ser lembrada com carinho pelo público. Vale citar que a novela foi apresentada no chamado ano de ouro da Rede Globo, 1985, em que também foram exibidas A Gata Comeu, Roque Santeiro e Ti Ti Ti.
Por Walter de Azevedo
Por Walter de Azevedo
2 Quebraram tudo:
Não me lembro da novela, mas me lembro de ter visto na casa de alguém anos depois o LP da trilha, com um mulherão de quatro na capa, sem o menor pudor. Ah, a televisão era tão moderna e a gente não sabia!
Adorei o texto, Walter. Aplaudo quem escreve, não somente os sucessos, mas também as tramas que não tiveram repercussão.
Em tempos de Morde e Assopra, vai o meu bordão: "Veria De Quina Pra Lua numa boa"...
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