quarta-feira, 15 de junho de 2011

Carta Aberta a Tiago Santiago

Caro Tiago Santiago



Começo esta carta te parabenizando. Sim, afinal, conseguir um emprego de roteirista de teledramaturgia passando pelas três maiores emissoras do país não é tarefa fácil. Mais do que isso, emplacar sucessos de audiência e conseguir um gordo salário na terceira emissora em audiência é tarefa ainda mais difícil e é preciso valorizar este feito.

Após isso, quero fazer um protesto a você. Independente de gostar ou não de seu estilo de escrita, independente de criticar veementemente o didatismo, superficialismo, e infantilidade que enchem os diálogos de suas obras, independente de localizar inúmeros clichês e furos em seus roteiros quase sempre pobres, não é sobre a qualidade de seus textos que quero tratar nesta carta. O protesto vai além, é algo que vem do âmago, uma revolta crescente que, certamente afeta milhões de pessoas.

Em recente entrevista, caro Tiago, você disse para quem quisesse ouvir que sua novela no SBT, Amor e Revolução, estaria sofrendo alterações nas próximas duas semanas e o tema "política" seria praticamente abolido. Após deixar de lado as torturas, o seu passo seguinte tentando salvar sua novela do mais absoluto fracasso é abandonar o tema político. Num momento de desabafo, você concluiu: "Nunca mais escrevo uma novela política" e ainda frisou que, em pesquisas, ficou claro que o brasileiro não se interessa pelo tema.

É disso que trata esta carta. De sua total falta de respeito para com a inteligência do brasileiro. Certamente, ao ler sua entrevista, autores como Gilberto Braga e Lauro César Muniz devem ter ficado incrivelmente incomodados. Como afirmar que brasileiro não se interessa por política, Tiago? Você, além de dar provas de não conhecer a história de seu próprio país, mostra que conhece nada de sua própria profissão. Tramas nacionais que utilizaram a política como pano de fundo fizeram incrível sucesso - já ouviu falar de Anos Rebeldes? E de Éramos Seis?

Tiago Santiago, meu querido amigo, sinto muito te informar, mas seu diagnóstico é pobre e equivocado. O problema de Amor e Revolução não é o tema político. Não são as torturas. Nem de longe é falar da Ditadura Militar. Mas é o texto pobre, os diálogos irreais, a parcialidade ao tratar de um tema sério e, principalmente, a falta completa de criatividade artística. Resumindo: o que falta a Amor e Revolução é ser uma novela, de fato.

Parafraseando o que você mesmo disse na entrevista, Tiago, encerro esta singela carta afirmando que qualquer pesquisa vai comprovar que o telespectador gosta de qualquer assunto, mas ele não gosta de ser feito de idiota e também não gosta é de produtos ruins. Aproveito a oportunidade para te dar um conselho: use seu tempo para produzir um texto mais apurado, com menos didatismo e falta de verossimilhança. Tenho certeza que, caso você conseguir, suas novelas farão sucesso.

Atenciosamente

Um fã de Teledramaturgia, de História e de Política.

7 Quebraram tudo:

FABIO DIAS disse...

Muito bom! Essa novela é um lixo! Acho que a pior novela já exibida em rede nacional! Uma vergonha!!

Parabéns pela carta!

Fábio Dias R.
www.ocabidefala.blogspot.com

Yuri Silva disse...

Daniel César, do alto de seu genialismo, pisou no Tiago, tadinho.

Rogercg disse...

Daniel César, do alto de seu genialismo, pisou no Tiago, tadinho. [2]

João Pedro Ferreira disse...

Daniel César, do alto de seu genialismo, pisou no Tiago, tadinho. [3]

Anônimo disse...

Cartinha bem elegante com muita coisa que muita gente gostaria que ele soubesse.
Lucas - www.portalcascudeando.blog.com

Thiago Monteiro disse...

Não adianta muito não. Cansei de ler no blog dele que a culpa por seus fracassos é da imprensa e dos jornalistas invejosos... Nunca é dele mesmo.

Ary disse...

Mas ele está certíssimo quando diz que brasileiro não se interessa por política. Não precisa de pesquisa nenhuma pra comprovar isso, nem tampouco se aprofundar em estudos, basta para isso ser um pequeno observador. Como soy.

Basta olhar para o congresso e ver os políticos que nos(?) representam. Um povo que elege Tiririca deve entender tanto de política quanto eu entendo de astronomia. E Tiririca é o exemplo menos grave, porque apesar de tudo, não é desonesto quanto tantos outros e outros que ainda assim foram eleitos. A maioria dos brasileiros nem sabem em quem votou na última eleição.

Dito o acima, e agora entrando no campo da novela de Tiago Santiago, é fato que se perdeu nessa novela. Falar de política em novela é mesmo um troço complicado. Não é pra qualquer um. Não é pra um autor como Tiago Santiago que mostrou mais talento no mundo da fantasia e ao seu modo se saiu bem como a saga Mutantes, na Record. Apesar de cr´ticas pela mídia especializada e alguns jornagunços que escrevem a mando da Globo, Tiago Santiago conseguiu obter relativo sucesso com essas novelas. Era 100% ficção. Sair daí pra pisar em terrno sólido que é a história política, e densa, como foi na época da ditadura constituiu um erro. Além de tudo, a estrutura do SBT não é lá muito favorável pra dramaturgia. Ou o autor faz a diferença no texto ou está inevitavelmente fadado ao fracasso. E Tiago Santiago nem sequer achou o tom certo. Quanto mais fazer a diferença.

Vamoquivamo

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