Não quero e não vou falar especificamente da briga que tomou conta da TV brasileira na última semana entre a Globo e a Record. Simplesmente por considerar que ambas estão exagerando e criando factóides sem necessidade e, na tentativa de continuar a briga, prejudicando completamente seus telespectadores. Só quero deixar registrado que neste, e somente neste caso, meu apoio está integralmente com a Globo.
Mas essa briga toda chamou minha atenção para um fato que é o atual momento das Redes abertas da TV brasileira e, considero essa discussão, muito mais importante e saudável.
Comecemos pela Rede que iniciou há alguns anos um ambicioso projeto de se tornar líder de audiência no Brasil, a Rede Record, que apostou em dramaturgia e jornalismo de qualidade para desbancar a Globo e afirmava para quem quisesse ouvir que conseguiria o objetivo. Em princípio, a impressão que se tinha era de que os sonhos da Record não eram assim tão inalcançáveis, pois, sem grande dificuldades, a emissora simplesmente tomou o segundo lugar do SBT que sequer conseguiu apresentar algum tipo de resistência. Com programas de qualidade como o excelente Tudo a Ver e novelas bem escritas como a ótima Escrava e Isaura e a não tão boa, mas com público cativo Prova de Amor, a emissora começou a caçada a Rede Globo. Diariamente suas novelas alcançavam espantosos 15, 20 e até 25 pontos de audiência, deixando a produção da Globo de cabelo em pé.
No desespero pela primeira posição, a emissora dos bispos começou a errar e errar violentamente. Apostou na audiência fácil com novelas que exploravam a violência e, a partir desse momento se perdeu. A grade voadora entrou em ação, ninguém mais conseguia acompanhar seu programa predileto porque constantemente muda-se o horário. Isso já se reflete nas audiências, as novelas, principal produto da emissora, atualmente dão 8 pontos de média (Bela, a Feia) e 11 pontos (Poder Paralelo), muito abaixo das antecessoras. E o principal produto da casa passou a ser A Fazenda, mas que está chegando ao fim e deixa a emissora sem perspectivas, pois ela já começou a perder o segundo lugar para o SBT que encostou na emissora no mês de julho e até agora, em agosto, é vice-líder.
O SBT sempre foi uma emissora perdida. Principalmente nos últimos anos quando seu dono, Sílvio Santos, parece que queria brincar com a grade, fazer testes e enlouquecer seus telespectadores. A impressão que se tinha era de que ele duvidava que seu público fiel algum dia migraria para outras emissoras. O fato é que o público perdeu a paciência com a grade voadora e desistiu do SBT em 2008. A programação do canal era impossível de se acompanhar, já que ninguém tinha idéia de quais programas seriam ou não exibidos.
Além de tudo, as apostas da emissora pareciam ser erradas e, quando apostava-se certo, perdia-se para a concorrência, como no caso de Ídolos que migrou do SBT para a Record. Brigando com seus profissionais, como fez com Ratinho e Adriane Galisteu, Sílvio Santos parecia não mais se reencontar e a lembrança da TV Manchete começou a pairar sobre a Anhanguera, parecia o fim da emissora mais popular do Brasil.
Então veio 2009 e com ele Daniela Beyrute, filha de Sílvio Santos e que assumiu a direção de programação da Casa. Audaciosa, ela começou a preparar a emissora para recuperar o segundo lugar, apostando na grade fixa, em programas interessantes, como os ótimos Esquadrão da Moda e Você se lembra? E, no mês de julho iniciou uma guerra contra a Record, contratando de forma surpreendente quatro profissionais de primeira grandeza da concorrente: Roberto Justus, Thiago Santiago, Roberto Cabrini e Eliana.
Hoje, o SBT tem muito mais cara de emissora, mesmo faltando apostar em jornalismo forte e de qualidade. A emissora parece ter se acertado em 2009, já no mês de julho houve um empate técnico em audiência com a Record e no mês de agosto, nos 15 primeiros dias ela já é vice-líder disputando acirradamente com a concorrente, além de ter se recuperado aos domingos e conseguindo o segundo lugar. A briga promete ser boa.
Após uma crise de audiência sem precedentes, a impressão que se tinha em meados de 2007 era de que a Rede Globo não mais recuperaria a hegemonia de audiência, já que seus programas caminhavam em queda livre. Novelas de horário nobre registrando audiências impensáveis há alguns anos, girando na casa dos 33 a 35 pontos, Jornal Nacional - principal veículo de jornalismo da emissora - também muito abaixo da meta, tudo parecia assustador. A Globo que nunca via ninguém pelo retrovisor começava a enxergar a Record, que mesmo muito longe, estava em crescente, na contra-mão da emissora da família Marinho que não parava de cair.
Começou 2009 e a Globo apostou em mudanças. Não foram mudanças radicais na grade nem no formato da grade, mas no formato dos programas. Toda a programação da Casa ficou mais leve, como o Vídeo-Show ao vivo e a ótima sacada de descongelar a forma de apresentação do Jornal Nacional. A emissora apostou em nome conhecidos para assumir os horários das 6 e das 7 nas suas novelas e a aposta provou ser correta. Oito meses depois do ano começado, a Globo segue tranquila e crescendo em audiência, com o horário das seis e da sete recuperado (a novela Caras e Bocas é um verdadeiro fenômeno de audiência) e o horário nobre caminhando para a recuperação.
Com tudo isso, fica claro que enquanto Record e SBT travam uma ferrenha batalha pelo segundo lugar, a Globo se aproveita e dispra na liderança. E a tendência é que a Record continue caindo e perca de vez a vice-liderança, se não acordar para a vida.
1 Quebraram tudo:
A Record de hoje não lembra em nada a Record de alguns anos atrás, para qual eu torcia e admirava!
Postar um comentário