sábado, 25 de julho de 2009

Uma obra de arte chamada Som e Fúria


Terminou. Porque tudo que é bom dura pouco, ou talvez porque a Globo não pensou nem planejou da forma correta, o fato é que com apenas três semanas, Som e Fúria chega ao fim com dois pontos importantes para a TV brasileira.

O primeiro, é de menor valor, é o fiasco de audiência. Quem já leu entrevistas de Fernando Meirelles ao longo de sua vida profissional, sabe que ele certamente não se preocupa com os resultados de audiência, ele é o tipo de roteirista e diretor que se foca mais na qualidade da audiência. Mesmo assim, como produto para TV, a série não deu o retorno em número que sequer possa ser chamado de razoável. Perdeu constantemente para a Record, o que é preocupante para o horário.

O segundo ponto, e sem dúvida muito mais relevante, é a qualidade. Som e Fúria se despediu da TV brasileira nesta sexta-feira entrando para a história das emissoras abertas como uma das melhores produções já realizadas e exibidas no país nesse pouco mais de 50 anos de TV e isso é ponto comum entre qualquer crítico e qualquer telespectador um pouco acima da média.

Ccom críticas interessantíssimas a situação do teatro entre as artes no país, a série mostrou de forma bem humorada o mundo de atrizes e atores. Mas muito mais do que isso, o que se viu, foi o retrato da TV brasileira, sim, da TV brasileira. Dante lutando para dirigir uma peça mais humanizada, com uma visão mais profunda foi uma espécie de metáfora para a salvação do telespectador, enquanto o ator mal humorado que já "interpretou" o persaonagem três vezes, é o telespectador, o diretor, o profissional de TV acostumado com tudo que simplesmente dá resultado, sem coragem de ousar.

Poderia passar aqui horas destilando cada elemento das personagens, pois todos eles tiveram um ponto em que nos identificamos, o que prova que a construção do roteiro e das personagens foi muito, muito acima da média. A direção também foi muito bem feita, desde o primeiro episódio era possível notar que a produção era independente, sem os vícios que todos os diretores globais têm. Com ousadia, Som e Fúria provou que é possível inovar também na direção.

E as atuações? O que foi Felipe Camargo? Ele interpretou Dante como se vivesse a própria história, deu o tom correto ao personagem, personagem este que poderia ser raso caso não fosse bem interpretado, mas Felipe Camargo soube enxergar todas as nuances da interpretação. E Dan Stulback? Ele é um dos atores mais completos do país e vem provando isso a cada personagem que ele interpreta na TV. No papel de Ricardo ele arrasou e construiu um personagem riquíssimo. Qualquer pessoa que tivesse esse papel nas mãos poderia cometer erros e torná-lo caricata, mas Dan foi perfeito, sem exageros, sem caricaturas, sem mentiras. Por fim, com uma participação curta, é verdade, mas marcante, temos Rodrigo Santoro. Num de seus personagens mais completos e complexos, ele deu vida com maestria ao "picareta" Sanjay e nos divertiu com suas excentricidades, mas o que marcou este personagem, para mim, foi a entonação de voz que esteve sempre no limite entre o exagero e o normal, o que tornou perfeita a interpretação.

Enfim, Som e Fúria saiu de cena deixando saudades e mostrando para todos: diretores, atores, produtores, TV's e telespectadores que é possível produzir algo de qualidade na TV aberta.

2 Quebraram tudo:

Guilhermina disse...

Você disse tudo já no título: uma obra de arte chamada Som & Furia. Foi sensacional, não tenho nada mais a acrescentar além do que está dito no post. Parabéns a todos os envolvidos e principalmente, a Globo, por colocar uma maravilha dessas no ar, mesmo que a tal audiência, não corresponda.

Christiano Costa disse...

Muito boa mesmo essa minissérie.
Já nasceu "cult".
Acredito que todos estiveram muito bem nela, mas com os destaques que você comentou.
Foi um produto de qualidade, mas acho que sempre perde um pouco por causa do horário "variável" demais.

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