quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Falso Moralismo do Público Brasileiro

A TV brasileira está cheia de personagens interessantes, dentro e fora do universo da programação. Os telespectadores e a própria justiça brasileira em determinados momentos tornam-se protagonistas deste ambiente, quase sempre de forma involuntária e pelos motivos equivocados. A classificação indicativa tão discutida - defendida por alguns e criticada por muitos - são um dos muitos elementos que transformam a TV num dos temas de grandes discussões por todo o país.

Em momentos controversos o que se percebe numa análise mais profunda é que a classificação indicativa imposta pelo Ministério das Comunicações é apenas um espelho do tradicionalismo exacerbado com que a população brasileira vive. Não é apenas em tecnologia e desenvolvimento que o Brasil está atrasado em relação a outros países, no conteúdo televisivo e na aceitação de temas também. Não à toa o beijo gay ainda é tabu por aqui.

Mais uma prova deste falso moralismo que assola o telespectador nacional ocorreu nesta semana. A polêmica novela Máscaras, maior fracasso da História recente da teledramaturgia brasileira, não apenas da Record, levou ao ar uma cena controversa e que mostrou o quanto o público brasileiro é tradicional e absolutamente exagerado na defesa do que ele considera moral, ética e bom gosto. Numa sequência com personagens secundários da trama em que eles viviam uma paixão tórrida e prestes a iniciar uma transa, a frase controversa é dita: "Você quer me ter?"

Essa frase que pode ser interpretada de duas formas, da dita acima ou "Você quer meter" chamou a atenção do público e a repercussão nas redes sociais foi mais alta do que qualquer outra sequência da novela conseguiu. Críticas ao autor da novela por conta deste texto choveram por todos os lados, muitos considerando uma apelação e exagero de cunho sexual na busca pela audiência. O que se percebeu foi a quase unanimidade em críticas pesadas ao episódio.

A cena em si não tem nada de tão importante, nem para a trama nem que possa suscitar tamanha discussão. O fato é que o texto busca inspiração em elementos nas grandes obras clássicas do cinema mundial. Texto controverso pode ser ouvido em cenas sexuais das grandes obras das películas. O Poderoso Chefão é cheio desse tipo de frase e ninguém considera apelação. Não é. É apenas um dos muitos elementos dúbios e que permitem diversas interpretações.

Um país que tem uma das teledramaturgias do mundo não pode se contentar com diálogos rasos, pobres e que nunca saem do óbvio. A dubiedade é um dos fortes elementos de se aprofundar um texto e, neste ponto, Lauro César Muniz acertou em cheio nesta cena específica e conseguiu enriquecer uma cena simples e que não caminharia para lugar algum. Pena que o público brasileiro ainda tenha o moralismo tão exagerado e que prejudica sua análise cultural.


2 Quebraram tudo:

Elton Germano disse...

Really? Comparar uma obra artística, um filme, um clássico como O Poderoso Chefão com um folhetim doméstico do Edir Macedo? Belo exemplo de falso moralismo.
Foi pura apelação, a cena toda. A mulher insinua transar a três com um travesti para salvar uma relação? E vc ainda acha que o brasileiro exagerou na reação?
Você me passou a impressão que não assitiu a cena toda, apenas o trecho editado da fala em anexo ao seu post e por isso não teve propriedade para escrever um artigo.

Paulo Jr. disse...

Esse moralismo hipocritamente exacerbado brasileiro acaba fazendo com que a classificação indicativa seja confundida com censura e praticamente se torne uma.

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