sábado, 28 de janeiro de 2012

O Brado Retumbante mais acerta do que erra

Com o fim de O Brado Retumbante, minissérie de Euclydes Marinho para a Rede Globo, na noite da última sexta-feira, a reflexão sobre a qual foi a real contribuição da série para a teledramaturgia nacional é importante, principalmente porque foi uma obra controversa e que chamou a atenção por seu viés político e sua capacidade de tratar de assuntos que raramente são vistos de forma série na ficção brasileira.

Somente o fato de mostrar um Brasil cheio de corrupção, com um dos piores sistemas políticos do mundo já é digno de aplausos. A coragem de Euclydes Marinho por criar uma espécie de herói político, um presidente incorruptível e que combate veementemente todo tipo de falcatruas, porém, humano, com fraquezas e desvios de comportamento como a incapacidade de ser fiel à família e absoluto preconceito sexual, foi prova da maturidade do autor e precisa ser comemorada.

Diante disso, olhando exclusivamente para a produção enquanto uma obra de arte, é preciso reconhecer que houve momentos de intensa qualidade e outros com equívocos que prejudicaram bastante o todo da minissérie. Se a primeira semana foi impecável, colocando a atração como uma das melhores coisas no ar nos últimos anos da TV, a segunda semana foi mais arrastada, confusa e, em algum momento, até desnecessária.

Os episódios centrados exclusivamente na vida pessoal de Paulo Ventura (Domingos Montagner) foram desnecessários para a trama. Ainda que o texto continuasse impecável, a direção acertando o tom e o elenco dando show, não houve razão de ser um episódio exclusivo para tratar do tema do filho transexual e muito menos gastar outro episódio inteiro mostrando o presidente entregue à depressão após o abandono da esposa Antônia (Maria Fernanda Cândido). As duas histórias como suporte para mostrar a humanidade do protagonista seriam ótimas, mas como centro das atenções não serviram para nada no contexto político que a série levou.

Ainda assim, com um último episódio intenso, cheio de meandros importantes e muito bem construído, a série conseguiu terminar com um saldo bastante positivo. A decisão de terminar a história justamente no início do primeiro debate presidencial entre Paulo e seu maior concorrente, vivido genialmente por José Wilker, foi arriscada, mas correta. Terminar uma produção de viés político no discurso do presidente incorruptível, correto e inteligente, mostrou que o recado estava dado, cabe ao eleitor tomar a decisão e, enquanto telespectador, cabe a nós refletirmos qual o Brasil da ficção que escolheríamos.

Com um roteiro muito bem construído, uma direção que nunca escorregou desde a estreia e um elenco que foi se firmando, O Brado Retumbante sai de cena como uma obra que contribuiu bastante para a teledramaturgia nacional, mostrando que é possível tratar de temas complexos no Brasil sem ser raso, sem ser óbvio e sendo coerente. Mas ficou o gostinho de que poderia ser melhor.

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